O Populismo Moderno

Ultimamente, intelectuais europeus estão discutindo um novo conceito político que está se tornando mais e mais relevante: o momento populista.

Eles estão preocupados por schmittianos[1] esquerdistas como Chantal Mouffe de um lado e, do outro, brilhantes ideólogos conservadores europeus e a "Nova Direita", sendo a mais influente e formidável de suas figuras o intelectual e filósofo europeu Alain de Benoist. Tanto a Direita quanto a Esquerda estão publicando textos dedicados ao momento populista, cada uma delas oferecendo diferentes interpretações, argumentos e previsões para o futuro.

O que é o momento populista?

Antes de tudo, é a emergência de líderes na política que se tornam extremamente populares, fazendo apelos para as grandes massas, enquanto que não se importam com a coerência ideológica de suas plataformas e posições. Podemos citar, primeiramente e antes de qualquer outra figura, Putin e Trump, cujas visões são difíceis de qualificar em categorias convencionais de Direita, Esquerda, etc.

Tais líderes compreendem e sentem a sociedade; o que ela genuinamente quer, por quais coisas ela está lutando, o que ela pensa e o que teme, e respondem a essas expectativas diretamente, sem se incomodar em acomodar essas respostas em algum tipo de sistema. E isso está funcionando cada vez mais.

Seja por acidente ou pela falha de sistema, isso está gradativamente se transformando numa tendência. Depois de Trump, essa é uma realidade global que gradativamente não pode mais ser ignorada.

Em segundo lugar, a democracia liberal está numa crise completa, ruidosa. Onde quer que ela tente agir aberta e diretamente, insistindo em seus valores ideológicos - os direitos humanos, as políticas de gênero, o cosmopolitismo, a sociedade aberta, a globalização, etc -, seus representantes constantemente sofrem o fracasso. O liberalismo ainda controla muitas esferas, como as finanças globais, a mídia global corporativa, a cultura, a educação e a tecnologia; mas, na sociedade, ele já é essencialmente rejeitado. 

O fim da história não aconteceu e o próprio Fukuyama, como um completo perdedor, está agora murmurando sobre como os Estados Unidos são, veja só, um Estado falido. O liberalismo está morto. Mas não são seus antigos inimigos, o comunismo e o fascismo, que o destruíram, mas algo novo: o Populismo. Qualquer populista, seja à Direita ou à Esquerda, pode agora vencer qualquer liberal.

Em terceiro lugar - e isso já está se tornando mais sério ,- um novo tema, um novo fenômeno está surgindo na vanguarda da política: o povo, ou o populus (daí o "populismo"). O povo está ausente nas ideologias da modernidade. Não há pessoas no liberalismo, cujo sujeito principal é o indivíduo. Não há pessoas no comunismo, onde a classe é a mais importante. Nem há o povo no fascismo, uma vez que a ênfase está no Estado. Tudo isso permanece no século XX. Agora, virando a esquina, algo novo está sendo mobilizado, algo antes esquecido (ou completamente desconsiderado): o Povo. 

Povo não é simplesmente a soma de indivíduos, classes ou cidadãos com passaportes e autorizações de residência. É algo vivo, orgânico, inteiro, em constante mudança e evitando definições rígidas. O Povo vive mais que as pessoas. Ele tem ciclos e escalas diferentes. Confia no mito e é cético diante da ciência. Mesmo quando o povo é covarde, ele é admirado por heróis destemidos. Mesmo se é torto, ama sinceramente a beleza. E, agora, este Povo está entrando em contradição ativa com o sistema político existente.

O Povo não é nem de Esquerda nem de Direita. O povo está de pé para a ordem e para a liberdade, para um Estado poderoso e para a justiça social, para a força e para o feriado contínuo. O povo facilmente une opostos sem sequer notar. O povo vive de acordo com uma lógica particular que nada tem a ver com as normas da ciência política moderna ou da sociologia. O povo não é sempre o que os outros pensam sobre isso. Não se presta a ser calculado ou contado. Procede de uma lógica diferente daquela do Iluminismo e das sociedades da modernidade. Em certo sentido, o povo é muito antigo. Ele é nutrido pelos fluídos da eternidade.

O Povo é um conceito político que está aparecendo, hoje, em oposição ao liberalismo. Os liberais estão gritando sobre uma ameaça fascista ou comunista, e são incapazes de compreender a essência do momento populista, o qual interpretam por meio de velhos clichês. É por isso que eles estão perdendo. É por isso que eles estão condenados.

No entanto, tanto a Esquerda quanto a Direita são unânimes em achar que este é apenas um momento, um período de tempo limitado, uma espécie de quantum no movimento histórico. Provavelmente, ninguém pode dizer se o Povo (e, consequentemente, o populismo) é um sistema, um programa, uma estratégia ou apenas uma correção temporária no curso da globalização liberal. 

Os globalistas tiveram seu momento no início dos anos 90 - o momento unipolar. Eles arruinaram tudo o que puderam ao longo de trinta anos, transformando a globalização e o mundo unipolar numa horrenda caricatura. Os reformadores da Rússia nos anos 90 fizeram o mesmo com a democracia. Agora, um momento diferente está chegando. O Povo está aparecendo no palco da história do mundo. Esta é uma chance, um risco, uma responsabilidade e um desafio. Mas é o nosso momento. Não utilizá-lo seria um verdadeiro crime.

Sim, isso mesmo: não tirar proveito de um momento tão populista seria algo bobo, e até criminoso. Mas, existe algum crime que ainda não tenhamos cometido? Infelizmente, tudo repousa em nossos ombros. No entanto, esta é uma oportunidade maravilhosa e aberta para uma alternativa verdadeira, uma alternativa russa.

Tradução: Jean A. G. S. Carvalho