Manifesto Europa Magna

Parte 1: Desconstruindo Europa

A Europa é um caldeirão sem saída. O caldeirão sem saída da história. Já não é européia. Tem perdido suas raízes profundas. Para qualquer europeu com consciência histórica clara, nosso tempo é um grande desastre. Assim, necessitamos identificar a essência de sua enfermidade, aprofundar-nos em suas fontes e propor a saída.

Político-Ideologicamente

A Europa está baseada no aberto domínio da democracia liberal em sua forma mais radical e intolerante. O liberalismo de origem anglo-saxã é imposto à sociedade européia de maneira totalitária. Você está obrigado a ser livre, mas só à maneira liberal Pode optar por ser liberal de esquerda, liberal de direita e, em algum momento, de extrema esquerda – no extremo oposto da extrema direita liberal (liberal, não obstante).

A economia de livre mercado, o papel dominante da elite financeira internacional, o individualismo anti-social mais radical, o credo cego no progressismo técnico, a política de gênero e a forma mais absoluta de secularismo são considerados axiomas absolutos para a classe dominante, que os fixa através do poder político, do sistema educativo, do controle sobre os recursos informativos e dos meios de comunicação de massas, como este, do sistema normativo.

O novo parente nebuloso do totalitarismo já não é comunista nem fascista. Desta vez, é liberal, e o liberal se converte em totalitário, assim como os outros produtos da modernidade política chegaram às suas conclusões extremas. É o terceiro totalitarismo imposto universalmente pela classe política liberal. A democracia liberal é só uma possível classe de democracia mas, hoje, é infligida como a única possível.

O liberalismo nem sempre foi totalitário. Frente aos outros totalitarismos – comunistas e fascistas –, ele parecia um caminho lógico de liberação e foi realmente liberador. Agora, na ausência de um inimigo devidamente constituído, ele tem revelado sua natureza totalitária. A liberdade se pode impor desde cima. Este tipo de liberdade imposta com as instruções detalhadas de como usá-la não pode ser mais que uma ditadura.

Liberdade é escravidão quando somos desprovidos do direito de questionar seu fundamento. Trate de questioná-los; depois, sente-se, relaxe e veja o que sucede. Imediatamente, você será identificado como “fascista” ou “estalinista”, “sexista” ou ”terrorista”; você será, decerto, alguma versão do inimigo da sociedade aberta. E ela é aberta só para aqueles que estão dispostos a aceitá-la como tal. Para todos os demais, ela é bastante fechada, como tendem a ser todos os sistemas totalitários.

A Europa atual está governada pela elite global ideológica, política, cultural, filosófica e tecnicamente. Pode ser de esquerda ou de direita, mas é essencialmente a mesma.

Esta elite liberal representa um germe do Governo Global, tratando de governar o mundo sem sanções para ele. A Europa é considerada por essa elite como um território puro para reter e explorar. A elite liberal global não é européia e não está trabalhando pelos interesses europeus.

Assim, o liberalismo dominante é o responsável pelo atual status quo. Os que estão muito contentes com ele devem estar agradecidos a esta elite liberal. Os que não estão, são livres para desafiá-la. Esse é o liberalismo do tipo anglo-saxão que é responsável em qualquer sentido do estado atual das coisas na Europa. Devemos solucionar este ponto. É essencial.

Geopoliticamente

Geopoliticamente, a Europa atual é uma entidade atlântica. No marco da análise geopolítica atual, a Europa contemporânea é exclusivamente a civilização do Mar sob o controle do Poder do Mar.

Isto significa que o papel de liderança na agenda geopolítica e a definição de opções estratégicas são o interesse global dos EUA e a infraestrutura militar global. A Europa não é um sócio menor neste sistema, mas sim uma espécie de vassalo geopolítico sob o patrocínio de Washington, seu cliente.

A comunidade atlântica é um conceito de civilização norteamericanocêntrico. Os interesses anglo-saxões formam o pólo de sua ramificação, donde a Europa é só uma base militar estendida. O vassalo deve seguir a senda que o Grande Irmão impõe. A Europa lutou contra o Grande Irmão Fascista, contra o Grande Irmão Comunista, e tem chegado ao Grande Irmão estadunidense.

O atlantismo é uma associação assimétrica  que impõe à Europa uma visão estratégica que exclui desde o princípio qualquer possibilidade de pensar as questões geopolíticas – no Mediterrâneo, na Europa oriental, no Oriente Médio e no contexto mais amplo da Eurásia – independentemente. O que é bom e correto para os Estados Unidos é bom e correto para a Europa: essa é a tese do atlantismo.

Paralelamente à situação com o liberalismo, o estado geopolítico é bastante similar: frente à ex-URSS como provável ameaça à segurança estadunidense, estava parcialmente justificada (mas algumas grandes mentes europeias – como, por exemplo, o general De Gaulle – sempre duvidaram disso); mas, hoje, isso é bastante obsoleto e antiquado desde o ponto de vista estratégico. Assim, o atlantismo aleija a Europa de sua própria identidade geopolítica.

Economicamente

O atual sistema econômico europeu está baseado no capitalismo financeiro dominado pela oligarquia mundial, eleita por ninguém e seguindo interesses que não têm nada em comum com os verdadeiros desejos das sociedades europeias, explorando os recursos laborais do mundo inteiro sem se importar com as necessidades justificadas e as expectativas da classe média europeia. Em lugar de crescer, a classe média europeia está diminuindo.

O espírito de empresa está diminuindo, erradicado pela grande corporação multinacional que não deixa lugar à iniciativa privada. O capitalismo em sua etapa atual está desmantelando os últimos restos das políticas sociais na Europa, mas ao mesmo tempo beneficia não só aos ricos em nome dos pobres, senão aos hiper-ricos em nome de todos os demais.

O capitalismo financeiro baseado na investigação do super benefício e a sobrestimação da velocidade de crescimento exponencial concebido como ilimitado, acumula uma enorme quantidade de ativos tóxicos que, de vez em quando, produzem crises terríveis cujo preço é pago pelas famílias e pelo Estado, ao invés de ser pago pelos especuladores do mercado financeiro e as corporações multinacionais.

Cultura/Valores

A cultura europeia contemporânea é um verdadeiro desastre. O gênio da Antiguidade, a espiritualidade da Idade Média, a ousadia do Renascimento, o vigor titânico da Modernidade, a profunda preocupação psicológica da arte da vanguarda europeia, tudo isso desapareceu frente a um tsunami de simulacros e paródias ocas, mórbidas, venenosas.

Os valores culturais têm alcançado a dimensão puramente individual, fora da qual nada preocupa a ninguém, deixando a Cultura e a Arte fora da possibilidade de comunicação, dessocializando-as.

A liberação do indivíduo de qualquer forma de identidade coletiva – como objetivo da cultura pós-moderna e dos calores ultraliberais – trabalhava, na atualidade, no nível da religião, da nação, do ethos, da pertinência estatal, mas hoje tem chegado ao nível do gênero (sendo também ele uma identidade coletiva), deixando os humanos cada vez mais encantados. Amanhã, o trans-humanismo terminará com a última forma de identidade coletiva, com a pertinência ao gênero humano.

A cultura baseada na liberação radical e na liquidação de qualquer forma de identidade coletiva perde tremendamente seu conteúdo humanista, desumaniza os povos. As crenças tradicionais, a vida, o patrimônio cultural são burlados, marginalizados, e se tornam opcionais.

As preocupações materiais ou hedonistas (cada vez mais virtuais), se convertem no único critério de valores. Não só os valores tradicionais são destruídos e condenados, como também a modernidade humanista é julgada como inoportuna e obsoleta. Em seu lugar, só temos um conselho universal: Liberdade! Livre de quê? De tudo? Para quê? Para nada! Esse é o esmagador niilismo da Europa contemporânea que impera.

Imigração/Identidade

A Europa está perdendo sua identidade. Já não há nações, povos, cultura, confissões ou religiões, só um território com uma população puramente numérica desprovida de qualquer característica qualitativa. Ser europeu hoje é o mesmo que lamentar suas raízes, envergonha-se pela história europeia, seus feitos e sua grandeza.

Hoje, ser um europeu típico  significa odiar a Europa histórica, desprezar o simulacro contemporâneo e amar a dissolução final na sociedade pós-étnica global de um único mundo. Os europeus não podem estar orgulhosos de sua identidade, eles simplesmente não têm direito a ter uma, A única identidade permitida é a individualista, puramente formal, exaltada pela ideologia dos direitos humanos.

Daí a imigração que é derivada diretamente deste enfoque puramente quantitativo do humano. Os imigrantes são concebidos como indivíduos puros sem nenhuma identidade distinta, só como seres humanos. Desta maneira, eles são desumanizados.

Mas o resto da sociedade europeia é desumanizada. Para eles, também é proibido ter uma identidade própria que vá além da individualizada. É assim que eles deixam de ser qualitativamente europeus, sendo-o só quantitativamente, exatamente como os imigrantes.

Mas os imigrantes têm algumas preferências aqui: se supõe que eles têm certo tempo de adaptação para perder sua identidade anterior. Os aborígenes da Europa não têm tal tratamento, pois estão pensados para servir como exemplo de como se deve perder os vínculos com o passado para, assim, indiretamente empurrar os imigrantes para a mesma direção.

A única identidade aceita na Europa atual é não ter nenhuma identidade em absoluto. Quando os europeus ou os imigrantes são imediatamente reprimidos pelo sistema: os imigrantes, de novo, menos duramente.