A Geopolítica da Russofobia: Uma Guerra Híbrida

Todos os dados ligados a Russofobia surgem nos países ligados à CEI[1]. A questão é: por que agora? De fato, a área de relações interétnicas é um tópico profundamente delicado. Tudo em uma sociedade está aqui. Por vezes tomando proporções catastróficas, como confrontos e massacres[2]. Além disso, poderia resultar em uma guerra de grande escala.
Por vezes permanece ao nível recorrente de confrontos. No entanto, em qualquer caso, se o objetivo é abalar esta ou aquela sociedade, então a esfera de relações interétnicas é o meio mais conveniente. Virtualmente desprovido de problemas.
A mídia possui um papel essencial nesta área. Se sua atenção é sistematicamente focada em tais tópicos e plots, consegue escalar facilmente o nível das situações. Um conflito diário e insignificante – no espírito de abuso de álcool, violência doméstica, ou colapso mental[3] – pode facilmente desembocar em um problema mais sério.
Imagine que exista um movimento para prevenir acidentes automobilísticos. Em cada acidente – incluindo corpos mutilados, sangue, atroz unidade entre partes mecânicas e pedaços humanos, crianças, animais, e idosos aos prantos –, cada uma das vítimas são filmadas e transmitidas na TV. Vídeos são postados online. Cada acidente automobilístico é friamente documentado. Após um mês de tal campanha, a adoção da lei para o banimento de automóveis na cidade seria automático. E aqueles que resistissem correm o risco de serem linchados.
Isso simplesmente não ocorre porque a quantidade de dinheiro arrecadado pela indústria automobilística é imenso.
O mesmo ocorre com conflitos interétnicos. Vale a pena registrá-los cuidadosamente, para então, disseminá-los em larga escala e emitir uma cobertura vigorosa, debatendo e analisando, e após um certo tempo, é consequência lógica esperar por conflitos reais e até mesmo guerra.
Esta é a lógica por trás do recorrente surgimento da Russofobia nos países que constituem a CEI. Não há dúvida que exista atrito. Eles sempre existiram, e na época do colapso da URSS, eles desempenharam um papel próximo de uma limpeza étnica e a prática de genocídio contra a população russa – em um largo território dos países da CEI. Atualmente, a escala é incomparavelmente menor. E porque milhões de russos foram forçados a fugir; também porque é completamente desvantajoso economicamente para as autoridades dos países integrantes da CEI chamar mais atenção para isso. Claro, novos países estão construindo seus próprios estados nacionais, e a língua desempenha um papel fundamental em tais casos. Mas, até mesmo isso pode ser resolvido gradualmente e gentilmente. Quando necessário, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão e Tajiquistão podem fazer isso.
Mas aqui estão os vídeos virais nos quais os povos das Repúblicas da Ásia Central, humilham russos de maneira sistematicamente dolorosa. O tema é levantado por nacionalistas locais que surgem por todos os lugares. Então houve uma onda de indignação entre nós. Totalmente justificada – nós estamos ultrajados como nossos irmãos e irmãs russas estão sendo insultados. Nós imediatamente esquecemos que epítetos nós mesmo estamos atribuindo aos imigrantes destas repúblicas – trabalhadores convidados e imigrantes ilegais. Mas nós somos Um, já eles…
O quadro de um grande pogrom[4] de russos já está se formando na Ásia Central. Algo deve ser feito…
Por que tudo isso agora? Estou convencido que isso faz parte da estratégia Ocidental para minar a integração do espaço eurasiano. A influência do Ocidente – incluindo as Repúblicas da Ásia Central – está em constante decadência. A Rússia como um polo sobreano, pelo contrário, está fortalecendo-se. Após a saída dos EUA no Afeganistão, o prestígio do Ocidente tende a zero. Melhor, a ameaça de expansão do Talibã banido na Rússia cai sobre a Ásia Central, e somente a Rússia é capaz de proteger Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão e, ao mesmo tempo, o Cazaquistão.
Claro, a Rússia exigirá alguma retribuição. A integração estratégico-militar do espaço eurasiano fala por si só. Alguns nacionalistas turcos fracos de espírito[5] criam um canal que, sistematicamente, humilha russos. Um nobre ativista dos direitos humanos no Cazaquistão, que intercedeu pelos russos, está preso. Mas o nacionalista russo responde na mesma moeda[6] somente em relação aos turcos. Um grupo de imigrantes ilegais está sendo expulso do país. É o bastante para fornecer uma gama de argumentos convincentes para o despacho, assim, o problema torna-se um bola de neve.
É este o esquema da guerra híbrida. Há um telos: esfacelar o fortalecimento do papel de peso da Rússia no espaço eurasiano. Estratégia: usando tensões interétnicas – russofobia e nacionalismo russo recíproco. Recurso: network, suporte midiático para a companhia e uma série de demonstrações políticas[7] para reforçar a ameaça. A guerra híbrida envolve, não somente agentes e profissionais, mas também agentes provocadores nacionalistas de extrema-direita. Usa pessoas reais, emoções humanas, o desejo pela restauração da justiça e da proteção dos seus. Mas seja como for, o objetivo final já foi alcançado. Moscou está começando a se enfurecer com seus parceiros da Ásia Central. Esses respondem na mesma moeda. Integração em questão. A missão do Ocidente, que tem passado por tempos difíceis, foi cumprida.
De acordo com o mesmo cenário, tudo foi construído na Ucrânia, nos Países Bálticos e na Moldávia. Não é isso? É?
Notas
[1] Comunidade dos Estados Independentes (CIS)
[2] “Pogroms”.
[3] Mental breakdown.
[4] Palavra russa que significa “causar estragos de maneira violenta”.
[5] O termo usado aqui é feeble-minded.
[6] O termo utilizado é in kind. Não tenho certeza, mas acredito já ter visto esse termo com algo relacionado a “pagar com a mesma moeda”.
[7] “Political showcases”.