Introdução à Noomaquia (Lição II) - Geosofia

O que estamos discutindo agora não é algo abstrato. Por exemplo, ao escrever e publicar o volume da Noomaquia dedicado ao Logos norte-americano, segui precisamente o caminho do etnocentrismo comedido. Você pode imaginar qual é o meu relacionamento com a cultura norte-americana: eu simplesmente a odeio. Lidar com isso foi um verdadeiro desafio para mim. Se eu tivesse escrito uma crítica ao imperialismo americano do ponto de vista russo, o resultado teria sido caricatural, teria escapado da esfera da Noomaquia e não teria alcançado uma descrição do Logos norte-americano. Em vez disso, cavando nas profundezas do Logos norte-americano, descobri coisas completamente diferentes, totalmente estranhas para mim, e comecei a entender. Eu não o aprovo, mas agora eu entendo ele, e eu entendo de onde vem a mentalidade e o comportamento daquele povo: em seu titanismo, em sua criação de uma civilização artificial pós-tradicional, na sua tentativa de construir uma espécie de sociedade americana em escala global, essas são consequências do seu Logos, que se baseia no universalismo desde o início. Repito, não aprovo tudo isso, mas isso é perfeitamente lógico. Existe um mundo americano, e há um Logos do mundo americano que identifiquei na filosofia pragmática – uma filosofia muito particular, muito diferente da filosofia européia, baseada na inexistência do objeto e do sujeito, uma filosofia muito interessante – a partir do qual logicamente tudo se segue.

Entrevista com Aleksandr Dugin: A Inteligência Artificial é a Humanidade sem Dasein

O Estado-nação moderno é um deus político de acordo com Hobbes e dentro da estrutura da ciência política clássica.

Há também deuses globalistas com o rosto de bruxa de Hillary Clinton, ou que participam de desfiles de orgulho gay e eventos feministas, ou Soros. Eles são os verdadeiros deuses da globalização: eles dizem o que é politicamente correto e o que não é, eles tomam suas próprias decisões sobre o que é aceitável e o que não é. Os deuses do liberalismo vivem em uma religião liberal. E este culto tem um grande rebanho, desde um programador até o chefe do Sberbank. O usuário médio também está sob sua hipnose.

Os deuses podem ser diferentes e, de fato, existe um "deus do computador": este é o próximo nível. Um deus com a cara de Zuckerberg ou Macron. Quando olho para Macron, ele me lembra de um cortador de grama de última geração, ele é feito de elétrons, as lâmpadas acendem e apagam. Mesmo se você olhar para seus olhos, parece que na íris você pode ver faíscas que piscam microscopicamente de vez em quando. Portanto, se Macron não é o deus da inteligência artificial, ele poderia ser o profeta de um deus eletrônico: ele ama tanto o futuro, iluminando com sua presença sem sentido um grande número de migrantes que mal entendem a gramática francesa. Curiosamente, na véspera das eleições na França, o jornal "Liberation" saiu com uma grande manchete: "Faites tous ce que vous voulez, votez Macron! Esta é a lei principal da seita "Thelema" de Aleister Crowley: "Faz o que queres, esta é a lei!" Aí está o Macron!

A Força Nuclear da Quarta-Teoria Política

Buscas assentadas neste desvio estão fadadas ao fracasso, pois tudo aquilo que não aponta altivamente para o Eterno, para o Bem e para o Belo, isto é, para a transcendência que nunca deixa de ser equilíbrio perfeito – e incessante busca pelo refinamento deste – culmina em antropofagia metafísica, refletindo na afirmação por meio de uma negação cartesiana radical, findando no niilismo.

Precisamos de um Grande Estado Continenta

A adesão da Bielorrússia à Rússia (especialmente em seu estado atual) não é uma opção. Nem para os bielorrussos, nem para Lukashenko, nem para Putin. Todos precisam, se não o Ocidente (e este definitivamente não é o Ocidente), de algo novo – com futuro, com esperança, com significado, com horizonte. A melhor coisa é um Estado radicalmente novo – a União Continental. Com uma ideia, com a justiça, com a vida, com o espírito e o triunfo do elemento nacional. E a Ucrânia deveria ser convidada a ele – não para entrar na Rússia com suas monstruosas elites, oligarcas e canalhas, mas para criar um novo Estado – baseado nas três identidades russas: Rus de Kiev, Rus de Polotsk e Rússia Moscovita de Vladimir. A dimensão euro-asiática acrescentará o Cazaquistão e o resto dos países e povos continentais que assim quiserem.

Introdução à Noomaquia (Lição I) - Noologia: A Disciplina Filosófica das Estruturas Intelectuais

O Logos de Cibele é a idéia de que a Grande Mãe cria e mata tudo. Não é a eternidade (Apolo) ou o ciclo (Dioniso), mas algo que age à sua maneira, com poder cego e absoluto. Uma forma de progresso: crescimento de baixo para cima. Na ótica apolínea, Cibele lidera a batalha titânica das forças ctônicas contra o céu e o reino do Logos masculino de Apolo. O Logos cibelino é a criação de um novo mundo que é titânico, ctônico e, em certo sentido, feminista, não porque haja igualdade entre homem e mulher – uma idéia muito mais dionisíaca – mas porque existe o domínio absoluto da Mãe sobre todo o resto.

 

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É HUMANIDADE SEM DESEIN

O que é IA? Esta é a humanidade sem Dasein. Mas o Dasein, muitos dirão, é uma pequena perda. Não está claro o que é, está em alemão, é vago e difícil, é o que horroriza em seu próprio fim. Bem, você não ficará horrorizado, porque o seu não terá fim, e daí? Segundo Heidegger, a essência do homem está em sua limitação, em sua finitude. Bem, não haverá extremos, o bom, o bem. Não haverá Dasein, e ao diabo com ele. Não haverá existência, e bem...

Agora duas Américas vão se enfrentar em uma guerra existencial

O acirramento das contradições e das tensões da sociedade estadunidense chegam a um ponto extremo, no qual se confrontam, hoje, uma América Cosmopolita e uma América Profunda. Em uma excelente análise do momento atual pelo qual os EUA passam, Dugin afirma que independentemente do resultado, o atual conflito político-social representa um alívio para o resto do mundo. Quanto mais os EUA tiverem que focar em seus problemas internos, melhor para o planeta inteiro.

O que o Black Lives Matter e a Antifa estão fazendo agora nos EUA é algo positivo. Eles mostram um pólo de uma nova identidade americana em sua forma completa. Esta forma é incompatível com a futura existência dos Estados Unidos da América como país forte e dominante. Totalmente incompatível.

Coronavírus e os Horizontes do Mundo Multipolar: As Possibilidades Geopolíticas da Epidemia

É provável que o mundo pós-coronavírus envolva regiões mundiais individuais, civilizações, continentes que gradualmente se convertem em jogadores independentes. Ao mesmo tempo, o modelo universal do capitalismo liberal provavelmente irá colapsar. Esse modelo, atualmente, serve como denominador comum de toda a estrutura da unipolaridade: desde a absolutização do mercado até a democracia parlamentária e a ideologia dos direitos humanos, incluídas as noções de progresso e a lei de desenvolvimento tecnológico que se transformaram num dogma da Europa Moderna e se propagaram à todas as sociedades humanas através da colonização (direta ou indiretamente em forma de ocidentalização).

A Ordem Pós-Global é uma Inevitabilidade

A Rússia também possui vários aspectos positivos em aspectos gerais: as políticas de Putin nas últimas duas décadas para fortalecer a soberania; a existência de um poderio militar sólido; precedentes históricos, no país, de uma autarquia completa ou parcial; tradição de independência ideológica e política; forte identidade nacional e religiosa; reconhecimento popular da legitimidade do modelo centralista-paternalista de governo.

Coronavírus: O Naufrágio do Modelo Liberal e a Quarta Teoria Política

De muitos lados, começam a circular rumores de que é necessário reconsiderar a democracia liberal, que agora é incapaz de confrontar os grandes desafios que incumbem no novo milênio. Um dos volumes mais críticos em relação a esse sistema é A quarta teoria política, ensaio recentemente reimpresso (Aspis Edizioni, 2019, 464 páginas, 28 euros) em que Aleksandr Dugin estabelece as bases para um novo paradigma, capaz para enfrentar a pós-modernidade com firmeza.

Durante seu exame, o filósofo russo distingue três macro-teorias políticas diferentes – liberalismo, comunismo e fascismo – que lutaram entre si no século XX, decretando a vitória do primeiro modelo sobre os outros dois. Segundo Dugin, após o colapso da União Soviética e a extensão do império talassocrático americano a todo o mundo, se chegou à globalização e à imposição do pensamento único através do tribunal inquisitorial do politicamente correto, que processa de maneira sumária qualquer um que não cumpra os ditames impostos pelas elites no poder.

Breve Esboço de uma Metodologia da Quarta Teoria Política

A Quarta Teoria Política é, também, necessariamente uma práxis, do contrário seria uma fórmula vazia, abstrata. Falar em uma Quarta Teoria Política é, de imediato, falar em uma Quarta Práxis Política. Vimos, por exemplo, alguns apontamentos sobre a Quarta Práxis Política em um capítulo e em um dos apêndices do livro “A Quarta Teoria Política” do professor Aleksandr Dugin, que nos davam indicações sobre uma relação diferenciada entre “teoria” e “práxis” na Quarta Teoria Política em relação a outras dualidades do mesmo tipo. Essa relação diferenciada implicaria a presença permanente de um caráter “prático” na “teoria” da Quarta Teoria Política e de um aspecto “teórico” na “práxis” da Quarta Teoria Política.

Os Deuses da Peste: A Geopolítica da Epidemia e as Bolhas de Nada

É possível esperar que, uma vez que se lidecom o coronavírus, a humanidade chegue à conclusões certas: restrinja a globalização; jogue fora as superstições liberais; pare a migração e ponha um fim às invenções técnicas obscenas que estão mergulhando a todos cada vez mais fundo nos labirintos intermináveis da matéria? A resposta é, claramente, não. Todos voltarão rapidamente aos seus velhos caminhos num piscar de olhos, antes mesmo de os cadáveres serem enterrados. Assim que – e se – os mercados ganharem vida e o Dow Jones voltar a acordar, tudo voltará ao normal. O ingênuo é aquele que pensa o contrário. Mas o que significa isso? Significa que mesmo uma epidemia desta escala será transformada em um infeliz mal-entendido. Ninguém vai entender o significado da vinda dos deuses da peste; ninguém vai refletir sobre as “bolhas de nada”; e tudo se repetirá uma e outra vez até chegar ao ponto de não-retorno.

O Retorno de Settembrini e Naphta no Século XXI – Debate entre Aleksandr Dugin e Bernard-Henri-Lévy

Quando Bush estava em Moscou, no momento da invasão dos Estados Unidos no Iraque, ele disse: “Por favor, seja paciente, você também terá democracia, tal como no Iraque”. Putin disse: “Muito obrigado, encontraremos outra maneira de construir nossa sociedade”.

Eu acho que a imagem que você deu é correta, mas ela não tem nada a ver com a sociedade ocidental moderna, onde existe uma maneira puramente totalitária de descrever os fatos, não a favor de um pequeno grupo de proprietários de uma mídia de massa ou de outra, mas em favor de uma elite política. E eles são, nesse sentido, uma espécie de platonistas, tirando suas verdades de sua ideologia liberal; isso também é algo platônico também. E o povo se revolta contra isso, em diferentes países, também no Ocidente. Penso que a onda de populismo é precisamente a recusa do povo europeu, não da direita ou da esquerda, mas uma recusa dos cidadãos europeus comuns em relação a essa agenda absolutamente abstrata das elites liberais. Então, acho que agora não se trata do Estado, estamos falando de elites políticas.

O Dasein e a Quarta Teoria Política: Rumo a uma Crítica Adequada da Teoria Política de Aleksandr Dugin

Uma invocação explícita do Dasein para um projeto que se afasta da leitura de Heidegger é a de Jean-Luc Nancy (2008) "O ser-com do ser-aí". Nancy se concentra no existencial do ser-com. Heidegger foi criticado por forçar a categoria do ser-com, em bases fenomenologicamente injustificadas, para o campo semântico reacionário do "povo" (Volk) e da “comunidade" (Gemeinschaft) (por exemplo, Fritsche 1999)[13]. Nancy critica Heidegger por não seguir o reconhecimento da prioridade do ser-com às suas conclusões filosóficas completas, como Nancy as vê.

Para Nancy (2008), ser-com poderia ser um mero “ser-ao-lado”, um “compartilhamento de propriedades” ou uma estrutura compartilhada “comunitária ou coletiva”, com a primeira correlacionada com a democracia e a última com o totalitarismo. Ele deseja navegar entre os dois fatos de que Heidegger, por um lado, como acusam os críticos, “sempre foi um pensador comunitarista ou comunal no estilo hipernacional e hiper-heroico que Lacoue-Labarthe qualifica como ‘arqueofascismo’ e no qual o indivíduo não tem peso algum, exceto...na medida em que o indivíduo está à altura de um destino e uma civilização” e, por outro lado, que ele "penetrou no enigma do ser-com" mais profundamente do que qualquer outro pensador.

Paradigma do Fim

A análise das civilizações, sua correlação, seu confronto, seu desenvolvimento, sua interdependência é um problema tão difícil, que na dependência de métodos, na profundidade da pesquisa, pode-se obter não apenas resultados diferentes, mas resultados diretamente contrários. Portanto, mesmo para obter as conclusões mais aproximadas é preciso aplicar a redução, reduzir a variedade de critérios a um único modelo simplificado. O marxismo prefere apenas a abordagem econômica, que se torna um substituto e um denominador comum para todas as outras disciplinas. O mesmo acontece (embora menos explicitamente) com o liberalismo.

A Desconstrução da Democracia

As hipóteses platônicas nos ajudam a entender o código da filosofia política contemporânea. Em última análise, todas as oito hipóteses podem ser consideradas modelos totalmente racionais do mundo e da sociedade e, se nos afastarmos das sugestões hipnóticas de progresso, poderemos fazer uma escolha consciente em favor de qualquer uma dessas hipóteses.

Isso significa que podemos selecionar a democracia e qualquer versão da democracia, assumindo a posição da segunda tese, ou podemos escolher a não-democracia, assumindo a posição da primeira tese e reconhecendo o Um. O interessante é que essa escolha pode ser feita não apenas hoje, pois ela também ficou diante do povo da Grécia Antiga, que escolheu entre Atlântida e Atenas (o diálogo platônico “Crítias”), Atenas e Esparta (a Guerra do Peloponeso, elogiada por Tucídides), e a filosofia dos monarquistas Platão e Aristóteles e dos liberais-atomistas Demócrito e Epicuro. Enquanto o homem permanecer homem, ele carrega em si mesmo, ainda que de forma vaga e distante, uma capacidade para a filosofia. Isso significa que ele carrega em si a liberdade de escolha. O homem pode escolher a democracia, e uma de suas formas, ou pode rejeitá-la.

Abstração e Diferenciação em Julius Evola

Evola fala de arte abstrata, mas para ele toda a arte – a arte em si – é abstrata. Diferentemente da filosofia, da metafísica, da religião ou da moral, a arte é, para Evola, um campo abstrato, uma zona do abstrato. Ou a arte é abstrata ou não é. Realmente? Não seria um exagero? Aqui devemos nos referir a outro. A Martin Heidegger, para sermos mais precisos. Filósofo dos filósofos, príncipe dos filósofos, filósoco por excelência (que, entre outros, Evola não entendeu nem apreciou; todavia, as omissões dos grandes homens demandam estudo e entendimento, nunca condenação), Heidegger acreditava que o espírito possuía dois cumes – a filosofia e a poesia (mais em geral, a arte). São diferentes: as pessoas que neles ascendem veem tudo de maneira diferente, a partir de ângulos diferentes. E, ainda assim, são semelhantes: ambos se colocam muito acima do vale dos homens comuns. A filosofia opera com a razão: independentemente de como se lida com ela, de ser mais ou menos inventiva, é um fato que se ocupa apenas dela. A poesia, por sua vez, tem a ver com outra coisa... Poder-se-ia dizer “loucura”, mas seria prematuro, ainda que não tão distante da verdade... Heidegger acreditava que a filosofia se concentrava no Ser. E a arte? O que é iluminado pelos seus refletores? Heidegger responde: o sagrado (Heilige). Talvez seja um indício.

INTRODUÇÃO AO NOOMAQUIA. LIÇÃO 9. O Logos Sérvio

A terra de origem dos sérvios, portanto, não corresponde aos Balcãs, mas está localizada mais ao norte. Ao mesmo tempo, surge a questão da pátria original, o Urheimat dos eslavos, geralmente aceito como localizado ao norte dos Cárpatos. Este último não constitui a terra direta de origem sérvia, mas a terra natal original habitada pelos protoeslavos, que viviam ao norte dos Cárpatos, no espaço da atual Ucrânia oriental. Após a expansão eslava, uma parte dos eslavos migrou para o norte, para o Báltico, e entre eles estavam os eslavos de Polabi, que após os séculos V e VI representavam a população dominante nas costas do Báltico. Supõe-se que os ancestrais dos sérvios devam ser atribuídos a uma dessas tribos polabe, especificamente entre os lótus, os bodrici e os lusacianos. Os ancestrais dos sérvios, portanto, viviam a oeste das outras tribos Polabe. A partir de então, eles migraram para os Balcãs orientais, e esse território foi reconhecido e garantido a eles pelo império bizantino, na intenção de defender as fronteiras do império contra os ávaros.

 

INTRODUÇÃO A NOOMAQUIA. LIÇÃO 8. ANÁLISE NOOLÓGICA DA MODERNIDADE

Uma primeira maneira de desconstruir a modernidade é fazê-lo do ponto de vista pós-modernista. A maioria dos pós-modernistas está insatisfeita com a modernidade porque, na opinião deles, não cumpriu completamente suas promessas iniciais de superar completamente a tradição, de modo que tentam desconstruir a modernidade com sua ética hiper-modernista, a fim de alcançar os objetivos estabelecidos pela modernidade, mas que, devido a seus limites internos, não atingiram. Podemos dizer que aos olhos dos pós-modernistas a modernidade é “tradicional demais” para superar completamente a tradição, como deveria ter sido e como a pós-modernidade se preparava para fazer. A desconstrução da modernidade operada pelos pós-modernistas visa, portanto, mostrar que ela não é “suficientemente moderna”, pois não atingiu o nível de modernização necessário aos olhos da ética pós-modernista. Mas é interessante como, ao fazer isso, nesse ato desconstrutivo, eles revelam a natureza artificial da Modernidade; de fato, você só pode desconstruir algo que foi construído anteriormente.

INTRODUÇÃO AO NOOMAQUIA. LIÇÃO 7. O LOGOS CRISTÃO

Podemos formular alguns princípios gerais sobre a doutrina cristã. Em primeiro lugar, do ponto de vista noológico e geosófico, o Logos cristão é evidentemente apolíneo. Os conceitos do Deus Pai Celestial, da Santíssima Trindade, da transcendência do Criador para a própria Criação, tudo isso gerou um Logos tipicamente apolíneo e patriarcal, com uma organização do espaço metafísica completamente vertical. Estamos lidando com o Pai Celestial transcendente, localizado no Paraíso, que cria o mundo. Esse ato de criação representa uma descida de cima para baixo, da eternidade para o tempo, do Paraíso à Terra, de Deus ao homem e a outras criaturas. O relacionamento entre o Criador e a Criação é, portanto, de um tipo hierárquico, com a Criação que deve ser submetida ao Criador. Essa verticalidade constitui a própria essência da tradição cristã. Nas raízes dos princípios dogmáticos fundadores, existe uma lógica puramente apolínica. Todas as três figuras da Santíssima Trindade também são masculinas, e isso é muito significativo do ponto de vista simbólico.

INTRODUÇÃO SOBRE NOOMAQUIA LIÇÃO 6. A CIVILIZAÇÃO EUROPEIA

A tradição grega é baseada na vitória completa do Logos de Apolo. No entanto, essa vitória, como mencionei na quarta lição, não foi imediata. As tribos helênicas dos jônicos e dos eólios passaram pelas primeiras ondas migratórias nos Bálcãs e no Peloponeso, dominando a civilização matriarcal existente. Mas, enquanto alguns territórios gregos mantinham a estrutura indo-européia trifuncional puramente patriarcal, outros a perdiam total ou parcialmente. Nas culturas Minoica e micênica, portanto, foi criada uma mistura de elementos patriarcais e matriarcais. Foi apenas com a última onda migratória das tribos helênicas dos dórios – provenientes do norte, dos territórios macedônios e portadores de elementos apolíneos e pastorais essenciais – que a cultura micênica foi destruída e um estilo puramente turânico foi introduzido. Tudo isso se reflete no dualismo da cultura grega entre o Esparta dórico e a Atenas jônica, um dualismo que reflete o equilíbrio de Noomaquia dentro do espaço existencial grego, uma vez que o Logos Apolíneo se manifesta em Esparta de forma clara e marcante, ao contrário de Atenas e nas colônias da Anatólia grega, onde, em vez disso, é menos preponderante. Esse dualismo incidente também desempenha um papel fundamental na geopolítica.

A Geopolítica da Distopia: O Totalitarismo de Orwell do ponto de vista da Teoria do Mundo Multipolar

O século XX assistiu à ascensão de diferentes ideologias que tomaram a forma do que se chama hoje de “totalitarismo”, formas extremamente autoritárias de governo, com restrições a  liberdades e discursos de superioridade e ódio a outros povos e visões de mundo, caracterizando o século XX como uma era de radicalismo político, sendo inclusive chamado por historiadores como Hobsbawn como a “Era dos extremos”. As duas guerras mundiais, a formação de grandes alianças entre diferentes nações em busca da consolidação de suas ideologias, como o comunismo, o fascismo, o nazismo e o liberalismo, levaram à crise do modelo de Estado-nação westphaliano e à formação de poderosos blocos geopolíticos, como o Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética e mais tarde a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que travaram diversos conflitos bélicos e políticos que moldaram as fronteiras do mundo atual, levando ao fim de  antigos blocos e Estados e pondo fim à divisão ideológica do mundo que imperava antes da queda da União Soviética em 1991.

O que a filosofia de Vicente Ferreira da Silva pode ensinar aos adeptos da Quarta Teoria Política

Vicente se aproxima de um politeísmo, que se relaciona ao estudo das consciências, citado acima. Para nosso filósofo, os deuses são potências que, ao se apossarem dos homens, criam a consciência. Os deuses são realidades meta-humanas e, assim sendo, não são criadas pela consciência, mas sim a criam. A passagem do mito para a filosofia clareia a consciência, mas oculta a presença dos deuses. Um conceito de extrema importância na filosofia de Vicente é que sempre que ocorre um desvelamento, outro elemento é ocultado, o que ele chama de desvelamento oclusivo. Então, ao se desvelar a consciência, são ocultados os deuses. Todo o pensamento de Vicente pode ser sumarizado na inversão entre mito e logos. Ele propunha que a filosofia evoluísse retornando ao sagrado, aos deuses, exatamente o contrário do que buscava o hegemônico pensamento positivista e racionalista brasileiro. Esse foi um dos principais motivos do isolamento intelectual que lhe foi imposto. Aqui, podemos perceber como o próprio conceito de desvelamento oclusivo opera: ao resgatarmos o pensamento de Vicente, descobrimos o motivo de seu esquecimento. Ao imporem o esquecimento de seu pensamento, nos é desvelado o ponto mais central de sua obra, o aórgico, a sacralidade do mundo.

 

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