Discurso de Maria Zakharova para a Conferência Global Multipolar
Abas primárias
Caros colegas e amigos,
Vocês já ouviram o discurso do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, no qual ele delineou as principais perspectivas para a construção de um mundo multipolar, a irreversibilidade e as razões objetivas desse processo. Gostaria de enfatizar que, pela primeira vez, o novo conceito de política externa da Rússia estabelece sistematicamente os princípios de uma ordem mundial mais justa e multipolar e visa facilitar sua implementação. Acredito que, a longo prazo, tais dispositivos serão incluídos nos documentos estratégicos conceituais de outros estados também. Isso depende, entre outras coisas, dos participantes de nosso fórum — influentes cientistas políticos e pensadores.
De minha parte, gostaria de abordar o aspecto comunicativo e informativo e, em parte, os valores e o significado desse processo. Vivemos num mundo onde a mídia tem não só um papel importante, mas até crucial em determinadas áreas da vida. Observem que estamos em diferentes cidades, países, continentes e fusos horários e, ao mesmo tempo, estamos nos comunicando em tempo real. Tudo isso se tornou possível não apenas por causa da tecnologia (aliás, gostaria de enfatizar que nos comunicamos em uma plataforma nacional, não em um equivalente ocidental), mas também pela disposição de pessoas de todas as esferas da vida em todo o mundo mundo para aqui estar.
Não há e não pode haver um único centro de gerenciamento de informações, como aspiram algumas elites ocidentais. Nas condições atuais, apenas a comunicação entre as várias línguas e um compromisso entre as muitas vozes é possível. E, em nosso “polílogo” com vocês, a voz de todos pode e deve ser ouvida.
Infelizmente, nem todos concordam com essa abordagem objetivamente justa. Estamos bem cientes de que as elites políticas nos EUA e na Europa usam as tecnologias de informação e comunicação não com o nobre propósito de levar informações objetivas a um público amplo, mas para provocação, propaganda e às vezes até doutrinação. E isso sem levar em conta as normas e tradições de diferentes países e sociedades.
A multipolaridade baseada na verdadeira soberania dos povos e na diversidade civilizacional não só ajudará a resolver conflitos políticos, construir uma ordem justa para todos e para cada participante das relações internacionais, enfrentar tentativas de estabelecer uma hegemonia global, mas também criar uma sociedade verdadeiramente democrática, livre de interferência nos assuntos internos de estados independentes, tanto política quanto ideologicamente.
Entre as dezenas de palestrantes que participam do evento atual, é altamente improvável encontrar um número significativo que apoie a agenda promovida pelos círculos neoliberais no Ocidente por meio da mídia controlada: mudança das normas de gênero, opressão contra os não-LGBTs, envolvimento deliberado de crianças e adolescentes na cultura queer. Além disso, como mostram os estudos, as pessoas nos Estados Unidos, Canadá, Holanda e outros países do Ocidente estão longe de ficar felizes com o fato de suas figuras públicas e autoridades eleitas terem escolhido esses tópicos para ser o centro de sua atividade cívica e política. Claro, não podemos e não iremos apoiar ou mesmo aceitar isso. Como observou o presidente russo, Vladimir Putin, na última reunião do Valdai Discussion Club, a diferença entre os valores tradicionais e os chamados valores neoliberais é que os valores tradicionais são únicos em cada caso, pois derivam da tradição de uma sociedade específica, sua cultura e experiência histórica. Por isso não podem ser impostos a ninguém — basta respeitá-los e tratar com cuidado o que cada povo escolheu ao longo dos séculos. É assim que entendemos os valores tradicionais e estamos convencidos de que a maioria da humanidade partilha e aceita esta abordagem.
Caros colegas,
Peço a todos os participantes da atual ágora que assumam que tais eventos têm uma importante função sinérgica na construção de um sistema multipolar de relações internacionais.
Vocês notam a importância atribuída por Washington às duas “cúpulas da democracia” em 2021 e 2023? No entanto, na realidade, essas cúpulas nada tinham a ver com democracia. Não podemos esquecer que todas as teses proferidas pelos líderes mundiais convidados pelos americanos tenham sido previamente aprovadas pelos EUA. E o efeito midiático desses eventos foi, para ser honesta, extremamente modesto. De qualquer forma, os americanos tentaram chamar a atenção geral para sua iniciativa, mas as pessoas sentem a artificialidade e o esgotamento dessa pseudodemocracia. A ideia era clara: mostrar que o mundo inteiro, ou pelo menos grande parte dele, apoia as abordagens ditadas pelos EUA. Esse é o tipo de “sinergia” que Washington estava tentando alcançar. Claro, seu plano inicial estava fadado ao fracasso. Acho que é por isso que, no cenário da mídia, mesmo no Ocidente, a segunda “cúpula” recebeu uma cobertura muito mais moderada do que a primeira. A tendência é clara.
Agora, observe como nossa iniciativa contrasta com esse pano de fundo: verdadeiramente internacional, não imposta de cima, nascida nos círculos políticos de muitos países ao redor do mundo. Gostaria de agradecer aos camaradas chineses e aos amigos do Brasil pelo trabalho e pela ousadia em promovê-lo no cenário internacional.
Em conclusão, caros colegas, gostaria de agradecer a atenção de vocês e enfatizar que estamos prontos para continuar apoiando esses projetos. Estou convencida de que muitos discursos interessantes ainda estão por vir e estamos ansiosos para fazer os relatórios após a conferência.
Desejo tudo de bom aos participantes e ouvintes.
Maria Zakharova
Fonte: Nova Resistência