A pessoalidade econômica
Abas primárias
00a história da economia, o conceito de Trabalhador total pode ser complementado pela fórmula da pessoalidade econômica.
A pessoalidade econômica se identifica com o Trabalhador total (integral). Sua essência reside na Pessoa, em sua acepção antropológica (basicamente, extraída da Escola Francesa de Durkheim-Mauss [1] e dos seguidores de F. Boas nos EUA [2]). Aqui, a Pessoa (la personne) é conceituada em contraposição ao Indivíduo (l’individu): enquanto a Pessoa se refere a algo social, público, complexo, forjado artificiosamente, o Indivíduo é uma realidade atômica, o ente humano abstraído de suas propriedades complementares. O Indivíduo é um produto da subtração da Pessoa de sua pessoalidade, resultado da ruptura entre a unicidade humana e quaisquer conexões e estruturas coletivas. A pessoalidade, por outro lado, se configura através da interseção entre essas várias formas de identidade coletiva, que podem se manifestar como papéis (em termos sociológicos) ou como afiliações (em termos antropológicos).
A pessoalidade existe e só faz sentido em suas relações com a sociedade. Uma Pessoa é uma coleção de funções, resultado da criatividade consciente e significativa do homem no eixo de sua identidade. A Pessoa nunca é um dado, mas um processo e uma tarefa. A pessoalidade está constantemente em construção e, ao longo dessa mesma construção, o mundo circundante vai sendo estabelecido, ordenado ou, ao contrário, destruído e randomizado.
A Pessoa é fruto de uma interseção entre numerosas identidades, cada qual mantendo relações com um tipo em específico – que, por sua vez, incluirá um número indefinidamente amplo de pessoalidades como seus aspectos.
A pessoalidade concreta é, neste sentido, uma combinação de tais ramos (estruturas/tipos) que, a partir das possibilidades subjacentes a cada estrutura (cujas combinações são ilimitadas), é sempre representado como algo original. É verdade que, na medida em que as pessoas falam um mesmo idioma, elas irão emitir uma variedade de discursos que podem não ser tão originais (como pode parecer apenas à Pessoa), mas tal previsibilidade nem de longe se assemelha a de uma máquina ou a de um sistema de reflexos fisiológicos de espécies animais.
A pessoalidade também consiste nas imposições etárias, de gênero, sociais, étnicas, religiosas, profissionais, de classe e relativas a outras identidades, cada uma das quais possuindo sua própria estrutura.
Desse modo, a Pessoa é a interseção destas estruturas, cuja semântica é determinada pelo próprio contexto estrutural.
Contrariamente, o Indivíduo é o produto de uma perspectiva limitada da singularidade humana, onde o aspecto pessoal é obscurecido ou até mesmo suturado por completo. O Indivíduo é um ente isolado das estruturas/ramos e é caracterizado apenas por sua presença física imediata, por seu sistema nervoso funcional e por sua capacidade de produzir movimentos autônomos.
É a teoria comportamental que fornecerá uma explicação mais exata do Indivíduo como conceito. Nela, um determinado ente é submetido a um experimento numa “Caixa Preta”, onde o Indivíduo, ao entrar em contato com o meio ambiente, se manifesta em seu estado empírico primário (cabe ressaltar que se, empiricamente, o Indivíduo é um ente realista, como conceito metafísico, ele é puramente niilista). Nesta linha de pensamento, o behaviorismo, além de afirmar desconhecer o conteúdo de tal “Caixa Preta”, afirma também que este conteúdo é irrelevante: o que, a princípio, nada mais é que uma conclusão lógica da filosofia americana do pragmatismo. Porém, o fato do conteúdo não ser “relevante” não significa que ele não exista, de modo que, quando se recusa a emitir juízo sobre a estrutura da Pessoa, o pragmatismo puro age de forma cautelosa, se abstendo de extrair qualquer conclusão sobre a ontologia do que há na “Caixa Preta”. Logo, o pragmatismo americano é um individualismo parcial, atado apenas ao aspecto empírico. O individualismo radical tem outras raízes, que são fundamentalmente inglesas e que estão associadas à tese da eliminação total da estrutura. Dizendo de outra forma, tal individualismo se fundamenta na destruição consciente e inconsistente da pessoalidade, em sua negação e na negação de seu estatuto metafísico e moral: a destruição da Pessoa seria um movimento em direção à “verdade” e ao “bom”, ou seja, em direção à “verdade do indivíduo” e ao “individual”. E aqui se estabelece o limiar entre a indiferença e o ódio: o pragmatismo americano é simplesmente indiferente à Pessoa, enquanto o liberalismo inglês, e seus derivados universalistas e globalistas, odeiam-na e buscam destruí-la. O objetivo é transformar a Pessoa em um conceito vazio, fruto de uma subtração da realidade, de um movimento de ruptura entre a realidade física e o ente humano unificado em seus diversos níveis – de modo que este é lançado num verdadeiro abismo metafísico (fruto da proscrição da pessoalidade e de todas as estruturas que a fundamentam).
Economia da pessoalidade:
Após essas explanações, a aplicação de ambos os conceitos (Pessoa e Indivíduo) à economia torna-se fácil. O Trabalhador integral (total) é precisamente uma Pessoa econômica, e não um Indivíduo econômico. Assim, a totalidade, que definimos como uma combinação de produção, consumo e propriedade dos meios de produção, é complementada por um aspecto substancial: sua inserção em estruturas sociais de natureza orgânica. O Trabalhador integral vive, produz e consome em um âmbito histórico e cultural que lhe fornece um conjunto ramificado de identidades coletivas. Este conjunto predetermina sua linguagem, clã, fratria, lugar no sistema de parentesco [3] (K. Levi Strauss), gênero, religião, profissão, pertença a uma sociedade secreta, interação com espaço, etc. Em cada uma dessas estruturas, a Pessoa ocupa um determinado lugar – lugar que lhe reveste de uma significação apropriada. E é precisamente esta significação que determinará sua atividade econômica.
O Trabalhador (especialmente o camponês) não trabalha apenas para sobreviver ou enriquecer, mas por muitos outros motivos e, o que é mais importante, por motivos que derivam das estruturas que formam sua pessoalidade. O Trabalhador trabalha em função da linguagem (que também é um tipo de economia: troca de discursos, de saudações, de bênçãos e maldições), do clã, do gênero, da religião e em função de muitas outras coisas, paralela e simultaneamente à pessoalidade que, em toda a diversidade de seus elementos constituintes, participa integralmente do Trabalho.
Neste sentido, o Trabalhador integral, economicamente, atualiza constante e continuamente suas estruturas de pessoalidade: o que faz com que a economia seja um tipo de liturgia, de criação, de proteção, bem como uma renovação ontológica do mundo.
A pessoalidade econômica é a expressão concreta de determinadas estruturas, onde essas estruturas, em seus variados níveis, aparecem combinadas em uma interação complexa e dinâmica. Mas se é verdade que as estruturas são comuns (embora a comunidade não seja universal, mas definida pelos limites da cultura), seu estatuto e sua expressão na realidade da pessoal é sempre singular, não só porque, em alguns casos, as próprias estruturas são diversificadas (por exemplo, em termos de gênero, profissão, casta [onde houver], etc.), mas porque, em cada caso, estas estruturas se manifestam com diferentes graus de intensidade, pureza e brilho. E é desta maneira que surgem as singularidades que tornam a vida imprevisivelmente diversificada: as pessoas introjetam tais combinações de estruturas comuns (culturalmente ajustadas), mas que se manifestam sempre de modo singular, uma vez que cada Pessoa as atualiza (acentuando-as ou combinando-as) de modo único.
Neste sentido, a sociedade do Trabalhador integral é determinada pela unicidade de um paradigma, que é a lei geral da predominância da Pessoa como a gestalt básica. É numa sociedade como esta, idêntica a qualquer sociedade tradicional, que o campo da economia é situado em uma esfera separada e independente, diferente das esferas onde atuam os guerreiros, os governantes e os sacerdotes. É importante que guerreiros e sacerdotes não participem diretamente da economia, que atuem como o Outro e que consumam os frutos econômicos excedentes gerados pelo Trabalhador integral. É importante que sejam os excedentes, pois, se os guerreiros e os sacerdotes exigirem algo além dos excedentes (a Parte Maldita de G. Bataille [4]), os trabalhadores morrerão de fome e de escassez, e isso implicaria na morte dos guerreiros e dos sacerdotes (ao mesmo tempo, em sociedades onde não há estratificação social, são os espíritos, os mortos e os deuses – em cuja honra o Potlatch é executado – aqueles que desempenham a função de destinatários da destruição da parte maldita [excedentes] [a palavra russa lihva é muito expressiva nesse sentido: significa levar vantagem, juros, da raiz likho, mal]).
A partir de tal constatação, segue-se um princípio importante na teoria do Trabalhador integral: a comunidade do trabalho dos trabalhadores integrais deve ser soberana em termos econômicos, isto é, deve ser uma autarquia completa em todos os sentidos. Só assim ela será independente da superestrutura (guerreiros e sacerdotes) que consome a parte maldita, e mesmo na ausência desta, a parte maldita poderá ser destruída no decorrer do rito sacral pelos próprios trabalhadores integrais. Isso elimina a condição de possibilidade da internalização da maldição, onde tal internalização maldita é a própria clivagem (Spaltung), que é o capitalismo.
O capitalismo resguarda em si uma clivagem na pessoalidade econômica, uma separação nas estruturas, ou seja, uma despessoalização. Isso conduz, simultaneamente, tanto à não soberania da comunidade do trabalho, quanto à dependência de fatores externos, à divisão do trabalho e à maldição econômica: o Trabalhador integral (camponês) torna-se um burguês, um consumidor imanente da parte maldita. Daí a decadência do caráter pessoal da economia e a alteração em toda a natureza da ordem econômica: a passagem da economia como forma de vida sagrada, no contexto das estruturas de pessoalidade, para a economia como forma de acumular recursos materiais. Nos termos de Aristóteles, a transição da economia (οἰκονόμος) à finança (χρηματιστική) – da Pessoa (figura basilar na economia) ao Indivíduo (peça artificial das finanças inserida num processo contínuo de enriquecimento).
O Indivíduo Crematístico:
O modelo capitalista se baseia na noção da sociedade como um conjunto de indivíduos econômicos, o que, logicamente, significa que o capitalismo não é uma doutrina econômica da economia da pessoalidade, mas uma ordem antieconômica crematística, que absolutiza e esquematiza a atividade egoísta dos indivíduos. Um indivíduo crematístico é o resultado de uma pessoalidade econômica clivada (Spaltung).
Neste sentido, o capitalismo avança a partir da premissa de que a base da atividade econômica é o Indivíduo em sua busca por enriquecimento: não o equilíbrio entre a estrutura cósmica e os elementos sagrados da liturgia do trabalho (como no caso do Trabalhador integral), mas o enriquecimento como processo monotônico e como ampliação das desigualdades. Isso significa que o capitalismo trata-se de um desejo consciente de internalizar e cultivar a parte maldita: o indivíduo crematístico busca maximizar sua riqueza e esse desejo se reflete no capitalismo do desejo – o desejo, aqui, é o desejo despessoalizado (daí a máquina desejante de M. Foucault), uma vez que não é o desejo da Pessoa e tampouco reflete as estruturas dos ramos, mas a mera vontade niilista do indivíduo dirigida contra as estruturas. Esse desejo crematístico é o poder do niilismo puro, que se estabelece em detrimento, não só da Pessoa, mas também da economia enquanto tal e, além disso, do homem enquanto estrutura.
O capitalismo destrói o cosmos enquanto campo sagrado, como comunidade de pessoas, afirmando, em seu lugar, o terreno das transações entre indivíduos crematísticos. Esses indivíduos não existem, porque, apesar do capitalismo, a Pessoa concreta ainda está lá, fenomenologicamente, como uma pessoalidade, isto é, como uma interseção das estruturas coletivas. Mas o capitalismo procura reduzir tal aspecto pessoal ao máximo: o que só é possível mediante a substituição da humanidade por indivíduos pós-humanos. E é na transição para o pós-humanismo que o desejo crematístico atinge o seu ponto culminante: a parte maldita realiza a implosão do humano, iniciada conjunturalmente no capitalismo, já que transação perfeita só pode ser realizada entre dois ciborgues – duas redes neurais despidas de existência e de conexões com estruturas pessoais.
Não obstante, a introdução do ciborgue na economia não é recente. Desde os seus primórdios, o capitalismo sempre esteve relacionado especificamente ao ciborgue, já que o Indivíduo crematístico é, em si mesmo, um ciborgue, um conceito artificial gerado através da clivagem do Trabalhador total (integral). Deste modo, tanto o proletariado como o burguês são figuras artificiais obtidas a partir da desintegração dos camponeses (a terceira função tradicional), seguida pelo desdobramento artificial de ambos em dois conjuntos de não equilíbrio: exploradores urbanos e explorados urbanos. Os ciborgo-burgueses e os ciborgo-proletários são igualmente individuais e, ao mesmo tempo, mecanicistas. O primeiro, porém, possui a parte maldita, enquanto, aos demais, resta apenas o destino obscuro da produção: enraizados na pobreza e na insignificância material.
Burguês e proletário é o que nos tornamos quando deixamos de ser pessoas e renunciamos à pessoalidade.
Escatologia econômica e QTP:
No contexto estrutural geral da Quarta Teoria Política, podemos tecer algumas considerações sobre a estrutura escatológica da história econômica.
Primitivamente, há uma pessoalidade econômica, um Trabalhador integral (total) que, nas especificidades das sociedades indo-europeias (principalmente na Europa), é representado pela Gestalt do camponês, que é uma Pessoa em sua plenitude e que representa a faceta do homem (em um sentido amplo, Anthropos) vinculada aos elementos da Terra.
Durante o cultivo do pão, o camponês [simbolicamente] passa pelo mistério da morte e ressurreição, vislumbrando o destino do homem como algo idêntico ao destino do grão. O trabalho camponês é [simbolicamente] um mistério eleusiano, e é significativo que a dádiva que Deméter dá ao povo, através da qual é realizada a passagem da caça/coleta à agricultura (revolução neolítica), tenha sido pão, vinho, uma espiga e um cacho de uvas.
O camponês, nesse sentido, é uma Pessoa atada aos mistérios, e a economia, originalmente, tinha como base os mistérios de Deméter e Dionísio. Tais cultos não apenas acompanham as atividades camponesas, mas eram eles próprios a atividade representada paradigmaticamente. Entre os atenienses, uma Pessoa plena era considerada uma iniciada nos mistérios, especificamente, nos mistérios eleusinos, que são os mistérios do pão e do vinho, os mistérios campesinos da morte e do novo nascimento. Tal é a figura do Trabalhador integral.
O próximo momento da história econômica é o advento do capitalismo, que está relacionado com a clivagem da pessoalidade econômica, à desintegração da imagem unificada do Trabalhador sagrado e, portanto, com a industrialização, a urbanização e o surgimento das classes (burguesia e proletariado). O capitalismo estabelece o indivíduo crematístico como figura normativa, descrevendo-o como uma simbiose entre o animal e a máquina. A metáfora do animal “explica” a vontade de sobreviver e o “desejo”, bem como a motivação predatória ao comportamento (anti) social (o lupus de Hobbes), ao passo que a racionalidade (a razão pura de Kant) é vista como um protótipo da inteligência artificial. Isso fica implícito no capitalismo inicial (no início da modernidade) e explícito no avançado (pós-moderno). Desta forma, o Trabalhador integral, novamente, emulou o destino do grão: ele não pertence mais à estrutura do ciclo rural anual, mas à história “linear”.
No entanto, o tempo linear, no capitalismo, é um vetor direcionado para a realidade da morte, para além da qual nada existe e onde nada há. Na modernidade, a morte é a morte sem ressurreição, a morte sem sentido, sem esperança. E com a irreversibilidade deste extremo, a aniquilação chega ao seu ápice com a emergência do fenômeno de um indivíduo puro, como uma culminação do capitalismo enquanto estágio histórico.
O indivíduo puro deve ser portador da imortalidade física, já que não haverá nada nele que possa morrer. Não deve haver nada nele que aponte para uma estrutura ou ramo. Deve ser completamente livre de todas as formas de identidade coletiva, bem como de existência. Este é, precisamente, o “Fim da Economia” [5] e a “Morte do Indivíduo” e, ao mesmo tempo, o apogeu da crematística e a imortalidade do indivíduo pós-humano.
O grão da humanidade está em decomposição, não obstante, não é a vida ressurreta que ocupará seu lugar, mas, ao contrário, um simulacro, um Anticristo eletrônico. E o Capital (que etimologicamente está ligado à consciência [do latim caput]) é o preconizador histórico do advento da inteligência artificial.
Assim, qual é o aspecto econômico da Quarta Teoria Política capaz de desafiar o liberalismo em seu estágio terminal?
Teoricamente, devemos afirmar um retorno radical ao Trabalhador integral, à pessoalidade econômica, contra a “ordem” capitalista desintegrada (que é, mais precisamente, um caos controlado) e o indivíduo crematístico. Isso implica em uma desurbanização radical e em um retorno às práticas agrícolas e à criação de comunidades camponesas soberanas. Este é o programa econômico da QTP – o ressurgimento da economia após a noite nebulosa da crematística, o renascimento da pessoalidade econômica do abismo do individualismo.
Mas não podemos ignorar a escala profunda do niilismo capitalista. O problema não tem uma solução técnica: o capitalismo não pode ser corrigido, ele deve ser destruído. O capitalismo não é apenas uma acumulação da parte maldita, ele é a própria parte maldita – essa é a sua essência. Portanto, a luta contra o capitalismo não é uma competição em termos de eficiência, mas uma luta escatológico-religiosa contra a morte.
O capitalismo, historicamente, ou melhor, historialmente (seynsgeschichtliche), é o penúltimo acorde do mistério eleusiano. A economia está apodrecendo sob a crematística, a pessoalidade econômica segue sendo despedaçada na esteira do Indivíduo, assim como os elementos e as estruturas vitais vão sendo destruídos pela mecânica do desejo eletrônico. Mas tudo isso passa a ter algum sentido se concebermos a história econômica como um mistério. Deste modo, estamos na última hora antes da aurora. Hoje, o capitalismo chegou em seu limite. O selo do Anticristo eletrônico foi desatado – tudo fica mais claro. Não se trata apenas de uma crise ou de uma disfuncionalidade técnica: chegamos no momento do Juízo Final, que é justamente o momento da Ressurreição. Mas para que a Ressurreição aconteça, é necessário que haja um sujeito da ressurreição, isto é, um iniciado, uma Pessoa, uma pessoalidade – um camponês.
No entanto, é justamente essa a figura que morre na história. Aparentemente, ela sequer existe (não mais). E retornar a ela é impossível: a separação em relação ao tempo da inocência (sociedade tradicional) é irreversivelmente distante e cresce a cada momento. No entanto, paralelamente, a distância em relação ao momento final da Ressurreição é reduzida. E toda a aposta está no fato de que aquilo que está destinado à ressurreição irá conservar a si próprio até o trovejar final explosivo das trombetas dos arcanjos. Portanto, no horizonte, vislumbramos não apenas um Trabalhador integral, um camponês, uma personalidade econômica, mas um trabalhador integrado – não o grão, mas a espiga.
Hoje, o camponês é convocado à Milícia. Na última hora antes da aurora (a mais escura) seu destino consiste em tomar parte da guerrilha econômica, cujo objetivo é derrotar a morte, domesticar o tempo novamente e subordiná-lo à eternidade.
A Quarta Teoria Econômica não pode ter qualquer vínculo com projeções ou fantasias sobre modernização e otimização: não projetamos e nem nos iludimos com essas coisas, pois se tratam de codificações incorporadas ao imaginário do Capital. É necessário pensar pessoalmente, não individualmente; historicamente, não situacionalmente; economicamente, não crematisticamente.
O objetivo não é construir uma economia mais eficiente em relação ao liberalismo, mas destruir a parte maldita.
A acumulação de riqueza é uma oferenda do diabo: ela se quebrará em cacos ao primeiro canto do galo. Somente o presente, a dádiva, a graça nos pertence pessoalmente e configura nossa propriedade. Por isso, o horizonte da economia deve ser notoriamente um sonho de ressurreição, que conduz à ressurreição, um sonho de Dádiva.
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Notas:
[1] Мосс М. Общества. Обмен. Личность. Труды по социальной антропологии. М. : Восточная литература, 1996. Mausse M. Une catégorie de l’esprit humain : la notion de personne celle de “moi” //Journal of the Royal Anthropological Institute. vol.LXVIII, Londres, 1938.
[2] Benedict R. Patterns of Culture. NY: Mentor, 1934; Wallace A. Culture and Personality. NY: Random House, 1970; LeVine R. A. Culture, Behavior, and Personality. NY: Aldine Publishing, 1982; Funder D. The Personality Puzzle. NY: Norton, 1997; The Psychodynamics of Culture: Abram Kardiner and Neo-Freudian Anthropology. NY: Greenwood Press, 1988.
[3] Lévi-Strauss C. Les Structures élémentaires de la parenté. Paris; La Haye: Mouton, 1967.
[4] Батай Ж. Проклятая часть. М.: Ладомир, 2006.
[5] Дугин А.Г. Конец экономики. СПб:Амфора, 2005.