Coronavírus: O Naufrágio do Modelo Liberal e a Quarta Teoria Política
Abas primárias
Os liberais estão desesperados. A pandemia de coronavírus que se espalhou pelo planeta em menos de um mês e deve matar algumas centenas de milhares de pessoas (sendo otimista) no espaço de um único ano, expôs todas as fragilidades dos fundamentos teóricos e práticos do liberalismo hegemônico. O terreno é fértil para a difusão da crítica ao liberalismo, enquanto os liberais insistem, já ensandecidos, que mais globalismo e fronteiras ainda mais abertas são a solução. A principal crítica ao liberalismo, hoje, vem da Quarta Teoria Política. A crise global é uma boa oportunidade para voltarmos a falar nela.
O surto do coronavírus está colocando em sério risco não apenas a saúde da população mundial, mas também a economia de todo o mundo. A Itália foi uma das primeiras nações afetadas por essa séria síndrome respiratória que também está se espalhando para outros Estados. Se inicialmente as medidas implementadas pareciam excessivas para alguns, agora se chegou ao fechamento das fronteiras pela Alemanha, Áustria, Eslovênia e Suíça, com todo o devido respeito ao Tratado de Schengen e todos os iludidos que pensavam estar compartilhando essa crise com a Europa.
Em retrospecto, ninguém teria pensado que se teria chegado à tomada de medidas draconianas para limitar o perigo de contágio, medidas que questionam seriamente a garantia dos direitos fundamentais. É interessante notar que os decretos adotados pelo governo italiano para lidar com essa situação parecem mais semelhantes aos da China autoritária do que os adotados pelos países liberais anglo-saxões, e como se percebe juridicamente a um modelo oriental e não ao ocidental. Enquanto isso, a União Européia, que sempre apoiou a austeridade econômica e o que Giulio Sapelli define como “ordoliberalismo”, parece disposta a fornecer ajuda e flexibilidade para lidar com essa pandemia, apesar das declarações da nova presidente do BCE, Christine Lagarde.
A Quarta Teoria Política
De muitos lados, começam a circular rumores de que é necessário reconsiderar a democracia liberal, que agora é incapaz de confrontar os grandes desafios que incumbem no novo milênio. Um dos volumes mais críticos em relação a esse sistema é A quarta teoria política, ensaio recentemente reimpresso (Aspis Edizioni, 2019, 464 páginas, 28 euros) em que Aleksandr Dugin estabelece as bases para um novo paradigma, capaz para enfrentar a pós-modernidade com firmeza.
Durante seu exame, o filósofo russo distingue três macro-teorias políticas diferentes – liberalismo, comunismo e fascismo – que lutaram entre si no século XX, decretando a vitória do primeiro modelo sobre os outros dois. Segundo Dugin, após o colapso da União Soviética e a extensão do império talassocrático americano a todo o mundo, se chegou à globalização e à imposição do pensamento único através do tribunal inquisitorial do politicamente correto, que processa de maneira sumária qualquer um que não cumpra os ditames impostos pelas elites no poder.
Diante dessa situação, Dugin reverte os esquemas com os quais estamos acostumados a raciocinar, considerando o modelo ocidental racista e afirmando que: “Sem dúvida, racista é a idéia da globalização unipolar. Ela se funda na ideia de que a história e os valores da sociedade ocidental, especialmente a sociedade americana, são leis universais e procura artificialmente criar uma sociedade global fundada nos valores realmente determinados local e historicamente – democracia, mercado, parlamentarismo, capitalismo, individualismo, direitos humanos e desenvolvimento tecnológico ilimitado”. O estudioso russo propõe o advento de uma quarta teoria política que, de maneira sincrética: “dirige-se a todos: tradicionalistas, socialistas, liberais, conservadores, pessoas com convicções e as sem convicções. É um convite para pensar, e não uma imposição de juízos ou modelos prontos. Nosso objetivo é despertar na sociedade italiana o interesse pela filosofia política, pelas idéias e pela percepção aguda – verdadeiramente italiana – da realidade”.
Quer se possa realizar este novo modelo ou não, é certo que, quando tivermos superado a pandemia do coronavírus e sairmos deste pesadelo, devemos refletir sobre a eficiência do liberalismo e avaliar cuidadosamente a resistência de um modelo que se revelou indiferente às necessidades da classe média e da parte menos abastada da população ao longo dos últimos vinte anos.