A Quarta Teoria Política e a "Outra Europa"
Abas primárias
A Quarta Teoria Política e a "Outra Europa"
"A Quarta Teoria Política é uma construção volitiva da tradição baseada na destruição da modernidade" - Aleksandr Dugin
Crítica do (Neo)Liberalismo desde "cima".
Em seu livro Carl Schmitt, Leo Strauss e O Conceito do Político Heinrich Meier assinalou que o mundo está tratando de deixar de identificar a diferença entre amigo ou inimigo. Schmitt mostra claramente ao mundo a inevitabilidade do "bem" com o fim de intensificar a "consciência de uma situação de emergência" e voltar a despertar a capacidade que se manifesta quando "o inimigo se revela a si mesmo com particular clareza". De fato, hoje podemos identificar sem deixar lugar para dúvidas o nosso inimigo. O inimigo ideológico (e ontológico) é o liberal, o partidário da teoria política que derrotou às duas ideologias do século XX, o comunismo e o fascismo/nacional-socialismo. Hoje nos enfrentamos com o resultado da vitória. Ao dizer "nós" não me refiro a alguma entidade política abstrata, mais exatamente me refiro aos representantes da tradição geopolítica da Eurásia ou dos enfoques da geopolítica telurocrática (portanto, os inimigos estão determinados por sua participação na geopolítica talassocrática). Comentando a obra fundamental O Conceito do Político, Leo Strauss assinala que apesar de toda a crítica radical do liberalismo contida nela, Schmitt não segue até o fim, já que sua crítica se desenvolve e se mantém dentro do alcance do liberalismo.
"Sua tendência anti-liberal", diz Strauss, "fica limitada pela 'sistemática do pensamento liberal' que não foi superada até o momento, o qual - como o próprio Schmitt reconhece - apesar de todos os erros não é substituído por nenhum outro sistema na Europa de hoje". A crítica do liberalismo é impossível dentro do âmbito de aplicação do liberalismo; sem superar definitivamente (ou melhor dito, "colapsar") o discurso liberal não há substituição possível.
Somos muito conscientes do fato de que as três grandes ideologias políticas do século passado - o liberalismo, o comunismo e o fascismo (as teorias políticas primeira, segunda e terceira, respectivamente) - são produto da modernidade. Uma mudança de paradigma à pós-modernidade implica necessariamente o nascimento de uma teoria política que esteja fora do alcance das últimas três teorias (ademais, tendo em conta as metamorfoses políticas do liberalismo, que podem se reduzir a uma só definição - "neoliberalismo" - a necessidade de uma alternativa bem cimentada se torna essencial). Somente depois de conseguir se liberar da escravidão da doutrina liberal, é possível proceder a sua crítica total.
Dar um passo mais além da modernidade não significa: a) tentativas destinadas à formação de outra doutrina comunista; b) a possibilidade de estabelecer uma ideologia neofascista capaz de substituir uma teoria política alternativa de essência contra-liberal. Temos que fazer uma escolha política que determinará o futuro da ordem mundial estando já em um ponto de transição rumo a multipolaridade, constituída por quatro pólos, onde a presença do pólo eurasiático é essencial. Ademais, a própria escolha política implica a aceitação consciente do conceito da Quarta Teoria Política permitindo a crítica do (neo)liberalismo desde "cima".
"A Outra Europa"
"Só umas poucas pessoas podem argumentar contra o fato de que hoje, em meio à aterradora sensação de crise e inquietude que se apoderou das mentes mais agudas, toda a comunidade européia apela ao ideal supremo da cultura mundial, a cultura, em que um novo princípio se espera que una aos poderes e portadores das dispersas tradições européias", diz o filósofo italiano Julius Evola em uma introdução de seu ensaio Europa Unida: O Requisito Espiritual.
Nós, os representantes da filosofia política eurasiática, estamos construindo relações estratégicas com os últimos rebeldes da resistência da Europa, com os que inclusive entre as ruínas mantém o valor de defender os valores supremos, heróicos e tradicionais. Ao refletir sobre as condições prévias da nova unidade européia, Evola destaca uma ameaça iminente proveniente à época da Rússia e dos Estados Unidos. Este ensaio se enfrenta ao período histórico que se caracterizou por ser um sistema bipolar de ordem mundial, em que o próprio modelo incorpora dois pólos, a duas potências hegemônicas - a URSS e os Estados Unidos. Hoje em dia, nos enfrentamos a um modelo unipolar e a uma potência hegemônica única, os Estados Unidos da América e, portanto, nos encontramos dentro de um vitorioso discurso liberal que está passando por metamorfoses só recém perceptíveis. Apesar de todas as diferenças entre os dois períodos históricos, a crise européia não somente segue sendo um problema não resolvido senão aumentou significativamente. Não obstante, que tipo de Europa estamos discutindo? Em uma de suas entrevistas, Aleksandr Dugin assinalou que hoje em dia nos encontramos com "duas Europas": Uma Europa liberal (ou Europa-1) que incorpora a idéia da "sociedade aberta", os direitos humanos, o registro de matrimônios do mesmo sexo, a legalização da família sueca, e a "outra Europa (Europa-2) politicamente comprometida, pensadora, intelectual, espiritual, que considera o status quo e a dominação do discurso liberal como um verdadeiro desastre e uma traição à tradição européia. "Muitos anos se passaram desde que o Ocidente se deu conta do que a "tradição" representa, em seu sentido mais elevado; o espírito anti-tradicional se converteu em sinônimo do ocidental já na época do Renascimento. A "Tradição", em seu sentido pleno, é uma sucessão de períodos, 'os tempos heróicos' de Vico - onde era a única força criativa com raízes metafísicas expressas nos costumes e na religião, no direito, na mitologia, nas criações artísticas - em todas as áreas privadas da existência", diz Julius Evola. Os últimos rebeldes da resistência da Europa são os representantes da "Outra Europa".
Em sua obra Europa e a Globalização Alain de Benoist presta atenção ao fato de que a "Europa tem todas as cartas de trunfo que lhe permitiriam derrubar a hegemonia estadounidense e se converter em uma grande potência mundial sem dúvida alguma". Não obstante, a Europa se abstém de tomar uma decisão estratégica e permite ser arrojada ao abismo da desesperança e da extinção total pelos Estados Unidos, a maioria dos europeus perderam sua identidade, e só uns poucos representantes da "Outra Europa" seguem sendo fiéis à herança da tradição européia. O quarto Nomos da Terra ao qual nos temos aproximado se caracteriza como "multipolar" ou, mais precisamente, como potencialmente multipolar já que "a única civilização, os Estados Unidos da América, é hegemônica em seis grandes esferas de poder: tecnológica, econômica, financeira, bélica, midiática e cultural". De Benoist destaca que os Estados Unidos tem como objetivo retrasar a inevitável transformação do universum ocidental em um pluriversum planetário. Uma ruptura radical em relação aos EUA poderia levar a Europa a se converter em soberana, para regressar a sua verdadeira identidade (nacional, cultural, etc) e, em consequência, contribuir para o ocaso do status dos EUA como líder mundial.
Gostaríamos de assinalar a necessidade de identificar um princípio capaz de assegurar a unidade, assinalada por Evola, da que definimos como uma doutrina política que representa uma importante alternativa à ideologia liberal. A doutrina política fundada por Aleksandr Dugin foi batizada como A Quarta Teoria Política. Hoje devemos reconsiderar o destino histórico da Rússia e da Europa. A Rússia, não como uma parte da Europa, senão mais exatamente Rússia e Europa como dois "grandes espaços" (Grossraum), duas civilizações: por um lado, dado o modelo multipolar da ordem mundial que incorpora a ditas civilizações como atores, e por outro lado, tendo em conta a análise exaustiva das relações entre Rússia e Europa que está superando o paradigma liberal e nos oferece uma imagem completamente diferente. Alain de Benoist também destaca que a Rússia, que se encontra no centro do Heartland, não é Europa, enquanto que a Europa pertence à entidade eurasiática. Cabe assinalar que o filósofo italiano Massimo Cacciari, ex-governador de Veneza e antigo membro do Parlamento Europeu (popular na Rússia acima de tudo por sua obra A Geofilosofia da Europa) tinha um pressentimento sobre a Quarta Teoria, descrito no prólogo de seu trabalho geofilosófico como: "...em lugar de um clássico regime simplificado com dois pólos - esquerda (marxistas) e direita (anti-marxistas, conservadores), e o centro no meio, Cacciari aborda apropiadamente um regime político que implica, pelo menos, quatro distinções".
"Imitação da História"
A Quarta Teoria Política é inimiga do liberalismo. Não obstante, o que defende o atual liberalismo? Nosso plano estratégico dirigido à destruição dessa ideologia hostil depende da resposta a essa pergunta. Hoje em dia nos enfrentamos ao "neoliberalismo" ou "pós-liberalismo", um liberalismo inautêntico. Em seu livro A Quarta Teoria Política, Dugin estabelece a mudança de status da ideologia liberal na transição da modernidade à pós-modernidade, e descreve o "cenário do grotesco pós-liberalismo": o individuum do liberalismo clássico, a primeira medida de todas as coisas, se converte em um pós-individuum; o homem como possuidor da propriedade privada - que praticamente adquire um status sagrado - será possuído por essa última por esta última; se produz a Sociedade do Espetáculo (La Société du Spectacle de Guy Debord); o limite entre o real e o virtual se torna borrado - o mundo se converte em um supermercado técnico; todas as formas de autoridade supra-individual se eliminam, o Estado é substituído pela "sociedade civil"; o princípio - "a economia é nosso destino" se substitui por outro princípio - "o código digital é nosso destino", em outras palavras, tudo se converte em virtualidade total.
"Não há nada mais trágico que a incapacidade de entender o momento histórico que estamos atravessando atualmente", assinala Alain de Benoist, "este é o momento da globalização pós-moderna". O filósofo francês põe em relevo a importância da questão de um novo Nomos da Terra como uma forma de estabelecer relações internacionais. Então como crê que será o quarto Nomos? De Benoist analisa duas possibilidades: a transição ao universo (ou um mundo unipolar), que significa a dominação estadounidense, e a transição ao pluriversum (um mundo multipolar), onde a diversidade cultural não se enfrentará a nenhuma ameaça de absorção total e de "fusão". Em efeito, o quarto Nomos da Terra se relaciona com a Quarta Teoria Política. Alain de Benoist afirma que "similar aos três grandes Nomos da Terra, na modernidade houve três grandes teorias políticas". Na era da modernidade nos encontramos com a sucessão do liberalismo, o socialismo e o fascismo nos séculos XVIII, XIX e XX, respectivamente. E essas três ideologias desapareceram em ordem inversa. Assim, a última das ideologias foi a primeira que desapareceu. O quarto Nomos da Terra requer o surgimento da Quarta Teoria Política. A Quarta Teoria ainda não se pode definir em detalhe - acrescenta De Benoist. Em efeito, será crítica com as teorias anteriores. Não obstante, incorporará idéias valiosas das ideologias precedentes. Será uma síntese como oAufhebung em seu sentido hegeliano.
Ao elaborar uma base ideológica para a Quarta Teoria é possível analisar aspectos tanto positivos como negativos das outras três teorias políticas conhecidas, e adotar aqueles aspectos que nos parecem aceitáveis. Essa é uma das maneiras. Não obstante, isso não significa que não existam outros enfoques. Também podemos propor a questão da "mimesis política" tendo considerando desde outro ângulo.
Por exemplo, os filósofos franceses contemporâneos Philippe Lacoue-Labarthe e Nancy Jean-Luc, oferecem um novo conceito de "imitação da história". Se centram na idéia de que a Europa tem tendido a ser orientada mediante a imitação durante muito tempo "o que, em primeiro lugar, significa imitar os antigos. O papel do modelo antigo (Esparta, Atenas, Roma) no estabelecimento dos Estados nacionais contemporâneos e na construção de sua cultura é bem conhecido".
"A imitação da história" desempenhou um papel fundamental no conceito do nazismo alemão (assim como no fascismo italiano). É importante refletir se a mímese política da época clássica é factível hoje em dia, e se existe ou não a necessidade de uma nova mudança rumo ao antigo é algo que tem que ser analisado. Não foi um erro dos seguidores da terceira teoria política em sua forma de nacional-socialismo alemão (o que resultou em uma derrota) o que na imitação dos antigos ignoraram uma característica importante: a existência de "duas Grécias" - apolínea e dionisíaca, a Grécia da luz do dia e a Grécia dos mistérios, a Grécia da Lei e da severidade heróica e a Grécia dos rituais extáticos e dos sacrifícios? E por último, é o território russo ao invés de somente o europeu onde é factível o renascimento do espírito da antiguidade? Em outras palavras, não deveríamos pedir emprestado a mímese política ou a imitação da história de ideologemas mais antigos em lugar daqueles aspectos ideológicos que existem dentro das teorias políticas geradas pela modernidade? Essa seria uma solução radical para o desenvolvimento da teoria política mais além da modernidade.
Quanto a Rússia, o estabelecimento da escola russa de neoplatonismo indica claramente a seriedade de nossa intenção e nossa compreensão acerca do importante papel de Platão. "O projeto da nova Rússia deve ser iniciado com o anúncio de Platão", diz Dugin. O fato de que Platonópolis, a República de Platão, nunca tenha sido fundada pode indicar que qualquer tentativa de estabelecê-la implicou uma intenção inicial de reduzir a distância entre a modernidade e a antiguidade mediante a aproximação da herança grega "nós/eles". Não obstante, o ponto principal é que nós/eles devemos ser elevados aos gregos. A cidade do mundo deve se converter na cidade de Deus e não ao contrário.
"O nazismo (e em muitos aspectos, o fascismo italiano) se caracteriza pela definição de seu próprio movimento, ideologia e Estado como uma manifestação de algum mito ou como um mito vivente. Isso é o que Rosengerg afirma: 'Odin está morto, porém de outra maneira, como essência da alma alemã, Odin ressuscita ante nossos olhos'", assinalam P. Lacoue-Labarthe e J.L. Nancy. O nacional-socialismo era uma síntese de diversos mitos (ainda que não muito exitosa): a Grécia apolínea e a dionisíaca se chocaram mais que compartiram em comum dentro da nova doutrina política; inclusive nas primeiras etapas, essa contou com uma derrota a mais em um choque histórico. Não obstante, ademais do elemento grego (Hitler costumava dizer de si mesmo: "Eu sou grego"), o nacional-socialismo também incorporou elementos do antigo paganismo germânico, da tradição medieval e indo-ária. O fascismo de Mussolini, por sua vez, representou um mito idealista da Itália como herdeira de Roma. Julius Evola assinala que com a doutrina do Estado, o fascismo "voltou à tradição que subjaz nos grandes Estados europeus. Ademais, restabeleceu, ou ao menos tratou de reviver a idéia romana como a maior e especial integração do "mito" sobre um novo organismo político que é "forte e orgânico". Para Mussolini a tradição romana não era somente uma figura retórica, era mais exatamente a "idéia de poder", o ideal para a educação de um novo tipo de ser humano que teve que tomar o poder em suas mãos. "Roma é nosso mito" (1922). Essas palavras testemunham uma adequada escolha e um grande valor; incorporam o desejo de fechar a brecha sobre o abismo dos séculos, para reviver a continuidade da única herança valiosa da história italiana". Não obstante, Mussolini nunca foi capaz de apreciar realmente a dimensão espiritual do símbolo romano e da antiga Roma.
Doutrina Racial
Um erro fatal do nacional-socialismo alemão foi uma compreensão distorcida da doutrina racial que reconhecia somente o "racismo de primeiro grau" (racismo biológico).
O primeiro passo nessa sucessão foi a confusão dos conceitos de "nação" e "raça" que, nas palavras de Evola, equivalia à democratização e à degradação do conceito de raça. As opiniões de um pequeno número de seguidores com uma compreensão diferente da teoria racial não foram tomadas em conta. Quanto ao fascismo italiano, desde o princípio essa ideologia estava livre da interpretação vulgar da teoria racial. Em 1941, Evola foi citado a comparecer no Palacio Veneziano, lugar onde havia sido planificada sua reunião com Mussolini. Mussolini expressou grande interesse na obra de Evola A Síntese da Doutrina da Raça depois de ter descoberto nela "uma base para o estabelecimento de um racialismo fascista independente e anti-materialista". Mussolini aceitou incondicionalmente a teoria das três raças, espiritual, mental e física (biológica). A mesma teoria havia tido uma relação direta com as idéias de Platão: a raça do corpo no Estado correspondia ao demos, a massa, enquanto que a raça mental e a raça do espírito se correlacionavam com os protetores/guerreiros e os filósofos, respectivamente. Não obstante, posteriormente Mussolini foi pressionado pelos representantes da Igreja Católica, que advertiu uma grande ameaça na questão racial discutida ao nível do espírito, e a teoria das três raças não recebeu um apoio adequado.
Julius Evola enfatizava que o conceito de raça (que está mais além de sua compreensão usual como uma quantidade antropológica e étnica) se enfrenta ao indivíduo (que de fato é uma característica positiva de racismo). Segundo o filósofo italiano, um dos efeitos práticos da teoria racial é "a necessidade de superar as concepções liberais, individualistas e racionalistas, segundo as quais uma pessoa é como um átomo, o sujeito em si mesmo, que vive, pelo que só tem sentido para si mesmo". Assim, o fascismo italiano com suas raízes se centrou inicialmente na teoria das três raças, o que o distingue fortemente da doutrina nacional-socialista que professava fanaticamente o racismo biológico.
Hoje em dia, a palavra "raça" e seus derivados se percebe somente em um sentido negativo; portanto, sua aplicação como elemento de base para qualquer estrutura ideológica seria extremamente imprudente. A Quarta Teoria Política rechaça categoricamente o racismo, incluindo as últimas formas pós-modernas que, como uma ditadura de glamour, seguem as tendências da informação moderna, a idéia da globalização unipolar (a superioridade dos povos ocidentais). Aleksandr Dugin afirma que a Quarta Teoria Política rechaça "todas as formas de hierarquização normativa das sociedades sobre bases de origem étnica, religiosa, social, tecnológica, econômica e cultural. Uma comparação das sociedades é possível, não obstante, não se deve reclamar superioridade de uma sociedade sobre as demais".
Voltando à questão da "imitação da história" várias perguntas podem ser apresentadas: Que caminho há que seguir ao desenvolver a Quarta Teoria Política? Há que selecionar "elementos sólidos" das três ideologias políticas ou devemos fazer referência à Politeia de Platão e à sociedade pré-moderna, tradicional (ou combinar ambos enfoques)?
Qual poderia ser uma transição hipotética do logos ao mythos dentro da ideologia política? E qual é a relação entre a Quarta Teoria Política e um mito?
Qual é o mito da Rússia e o mito (ou mitos) da "outra Europa" que se incorporam na Quarta Teoria Política como base para um mundo multipolar?
Essas perguntas esperam respostas.
Aleksandr Dugin crê que Platão sacrificou a verdade do mito à verdade da filosofia. Portanto, a República de Platão, desde o princípio, se baseava no princípio apolíneo (rechaçando estritamente o dionisíaco). Acaso não é adequado sacrificar a verdade da filosofia pela Filosofia do outro Princípio que eliminará a problemática da separação de logos e mythos? APoliteia só é possível quando há dois de seus princípios constituintes. A Quarta Teoria Política está na necessidade de um Mito, um Mito como Mito universal, um Mito como paradigma, em cujo marco o diálogo entre Rússia e a "Outra Europa" marcará (quer dizer, chegará a ser) a transição rumo a uma nova realidade política.
Segundo seu fundador, a Quarta Teoria Política é uma construção volitiva da tradição baseada na desconstrução da modernidade. Principalmente maneja o rechaço total aos três sujeitos das três teorias do século XX: rechaço do indivíduo, classe e raça/Estado-nação, no liberalismo, comunismo e nacional-socialismo/fascismo, respectivamente. O Dasein (em alemão "ser-aí") de Heidegger se converte no sujeito da Quarta Teoria Política fazendo dela uma "estrutura ontológica fundamental desenvolvida no campo da antropologia existencial". Ademais, a Quarta Teoria Política, enfocada na multipolaridade, vai ainda mais além que Heidegger e afirma a pluralidade do Dasein. O Dasein-cultura-civilização-grande espaço-pólo do mundo multipolar apresenta um contexto absolutamente diferente do pensamento político. Não há nenhum indivíduo já que é abolido pelo Dasein; em lugar do indivíduo há um problema de existência autêntica ou inautêntica, é uma opção - das Mann ou Selbst; esse é o fundamento da Quarta Teoria Política. Uma classe e uma raça, assim como um Estado (pelo menos, um Estado nacional burguês contemporâneo), constituem construções antropológicas e ontológicas da modernidade, versões de Techne, Ge-Stell; e nós estamos desenhando uma estrutura política existencial - diz Aleksandr Dugin.
Portanto, todas as tentativas de nossos adversários liberais tendentes a desacreditar a Quarta Teoria Política como "uma nova versão do nacional-socialismo" não tem fundamento, e representam somente uma reação hostil devido à aparição de um rival igual (ou superior) e ações estratégicas destinadas a eliminar o risco de colisão iminente com o inimigo. Uma vez mais, gostaríamos de enfatizar que a Quarta Teoria Política está mais além do alcance das três ideologias políticas, e que uma resistência rígida ao liberalismo pode ser considerada como a única característica que lhe aproxima à segunda e terceira teoria.