Ultrapassado o paradigma moderno do Estado-nação, a QTP põe os olhos sobre a simpatia entre as comunidades étnicas, cada uma tendo seu lugar natural no universo[10]. Dessa forma, dispensa-se o separatismo político-econômico para a defesa de tradições regionais, pois dentro de cada Estado-nação, como são exemplos paradigmáticos muito semelhantes entre si a Rússia e o próprio Brasil, há na QTP uma autonomia maior para a regulamentação administrativa por parte de cada comunidade em particular, de modo a permitir que cada comunidade governe a si mesma de acordo com seus próprios costumes, permitindo e proibindo costumes alógenos.
O mercado, assim, no nosso objetivo último, deve ser destruído, aniquilado, pulverizado. Todo esforço por domá-lo, sob a liderança de uma forte ditadura estatal e popular, deve tender, ao fim, à destruição dele. O desenvolvimento e a soberania, uma vez alcançados, não significariam aí o fim da missão de nossa utopia, mas apenas o alcance de um estágio inicial, que poderíamos juntamente de Marcelo Gullo chamar de insubordinação fundante realizada, concretizada. Este esforço desenvolvimentista existe para tomar o controle da situação e a partir disso, então, desenvolver uma verdadeira guinada para um novo paradigma, dessa vez político (de pólis) e, assim que possível, abandonar a economia enquanto realidade humana. A economia, em última instância, deve ser aniquilada enquanto atividade e ciência humanas, e dar lugar a um paradigma que se oriente pelo holismo da natureza, pela simbiose do homem com o mundo enquanto universo político em que o homem se vê como apenas uma pessoa dentre tantas outras pessoas presentes, incluindo aí o mar, o ar, a terra etc. A realidade de um pampa gelado em pleno inverno, onde se pode acampar com a prenda sobre as faíscas de uma fogueira, e diante do chiado de uma chaleira e sob o lusco-fusco do sol nascente ou poente, deve ser soberana acima de tudo, deve ter preeminência sobre os interesses de empresas mineradoras ansiosas por lucrar com a destruição alheia. A natureza tem tudo de que precisamos, e a preservação deste paradigma deve ser um dos elementos de nossa utopia.
A atitude em relação aos agricultores será sagrada. Toda a vida será adaptada de acordo com os agricultores. Tudo para os camponeses. A população será pastoralista e cultivadora. O trabalho agrícola, os grãos, as uvas, a panificação, os pães e os touros, as vacas, as ovelhas e as cabras serão elevados ao status de ideologia estatal. Vendo uma espiga de grão ou um burro, para não mencionar um agricultor ou pastor, todos os cidadãos da Platonópolis os acolherão com cânticos. À frente da humanidade estarão o Pão e o Vinho. Touros que falam com a Lua entre seus chifres servirão Pão e Vinho aos viajantes cansados.
O primeiro povo indo-europeu a emergir historicamente foi o trácio. Os trácios desceram aos Bálcãs antes dos eslavos, por volta de 1200 a.C, estabelecendo uma espécie de império tribal, inicialmente nos Bálcãs do norte, para então ocupar aproximadamente a grande área da Europa Oriental. O que é importante notar é que os territórios nos quais a civilização trácia se expandiu eram os centros ou pólos da civilização da Grande Mãe – Lepenski Vir, a cultura de Vinča, a cultura Karanavo-Gumelnita e a cultura de Cucuteni-Tripiliana, etc. – que passaram a constituir o substrato do horizonte existencial trácio. Aliás, não podemos dizer com certeza que os trácios foram os primeiros povos indo-europeus a aparecer nesses territórios, mas eles são os mais antigos dos quais temos conhecimento.
O “campo de batalha” dos dois espaços existenciais – paleo-europeu e turânico – cria um novo tipo de estrutura, um ponto de encontro, uma terceira estrutura para sermos precisos. No sentido mais autêntico, o Logos de Apolo é representado pela sociedade nômade turaniana; Da mesma forma, o Logos de Cibele, na sua forma mais pura, é representado pela sociedade agrícola, sedentária e matriarcal da “Velha Europa”. Mas, a partir do encontro desses dois espaços existenciais, cria-se uma nova dimensão, que constitui precisamente o campo de Dioniso, onde o conceito patriarcal do homem desce às profundezas da matéria. O que pertence ao céu desce à terra e alcança o centro da terra. Dioniso torna-se assim senhor do Inferno como Zagreus.
Trakl, leitor tanto de Hölderlin quanto de Nietzsche, e muito influenciado pelas figuras de pensamento deste último (o mesmo do caminho para cima e para baixo, para além da dicotomia dos valores supremos de Bem e Mal, o eterno retorno, a hora mais silenciosa, e, por fim, esta do "Dioniso, o Crucificado") criou um contraponto à ditirâmbica dramatização de Hölderlin da Saga do Deus Dioniso, conduzindo o seu Poeta, nomeadamente a personagem Élis, pela via da dramatização do percurso celeste do Deus Hélio, e, isto, precisamente, rumo à madrugada da hora mais silenciosa, figurada pelo Pensamento de Nietzsche. Em Trakl, o Crucificado não é assimilado no Deus Dioniso, mas sim no Deus Hélio, em sua rota para o Ocaso. Com esse contraponto, o Poeta dissolve de todo na linguagem poética a dicotomia Dioniso-Hélio, isto é, escuridão-claridade - este Deus tem que marchar para a madrugada de sua hora mais silenciosa e aquele tem retornar, isto é, renascer na hora mais clara.
No mundo exterior eu me tornei quase imperceptível e sem muito o que mostrar; apesar disso tudo, essa moça – no que não pode ter sido uma decisão racional – atendeu minhas preces ao acreditar em mim. Como no poema unicórnio de Rilke, das Tier, das es nicht gibt, ela cedeu espaço para algo emergir. Na sinistra escuridão da minha mina de carvão eletrônica, ela se tornou meu uno raio de luz espiritual; a criança-estrela transformando minha prisão em Avalon, onde passamos um curto verão e Natal como rei e rainha. Com ela, tudo era experimentado na trajetória entre nós, e não mais na solidão despropositada. Agora, no fim da história, o mundo inteiro, com toda sua poesia, filosofia, música, histórias, aleatoriedade, miséria e loucura, estava à nossa disposição; um local de possibilidades, sementes, no qual podíamos escolher os materiais para a construção de um novo mundo. Havia uma pureza em nossa interação transcendendo nossos entes condicionados, uma força excessiva, testemunhando nossa presença – ao longo do tempo – através de novas revelações.
Nossa tradição é essencialmente dupla: formalmente somos indo-europeus a parte “diurna” de nossa sociedade é caracterizada por uma estrutura vertical e patriarcal – mas secretamente, na parte “noturna” vive o horizonte existencial da Grande Mãe, do matriarcado, que se manifesta na sociedade pacifista e democrática. Nossa identidade como povos indo-europeus deve ser considerada essencialmente dupla. Sem o reconhecimento desse segundo nível pré-indo-europeu, não poderíamos explicar nada sobre a sequência histórica de nossa civilização, uma vez que a história européia, como a indiana e a iraniana, se baseia na luta contínua entre esses dois Logoi.
O Tradicionalismo moderno é, claro, mais adequado que a profana filosofia acadêmica e mais próspera que a Pós-modernidade. Mas todos os sinais de transformação do Tradicionalismo em uma convenção, rotina, “escolasticismo”, de seu arrefecimento consciente de qualquer movimento vivo da alma ou do coração, são gritantes. Aqui descobrimos que o Perenialismo é um construto e sempre foi. O apelo de um Tradicionalista na direção de uma Tradição existente nada decide, assim como a reverência de Platão aos deuses paternos não exauriram sua filosofia.
A relação entre um brâmane e um xátria não é, portanto, uma coisa tão fácil. Esta linha complexa e ambígua das relações brâmane-xátria é descrita com mais precisão, em minha opinião, por Guénon, que se opôs a Julius Evola. Mas Evola também deve receber crédito pela coragem puramente guerreira com a qual ele fundamentou o modelo xátrio-cêntrico, e que por sua vez enriqueceu substancialmente o tradicionalismo. Mas todos aqueles que estão diretamente relacionados com o aspecto corporal, com a área da luxúria, deveriam estar no terceiro andar. E os trabalhadores devem ter uma vantagem neste terceiro andar: senhores sagrados de casas, de famílias, de fazendas, de loteamentos, de campos e de gado. Trabalhadores livres, camponeses livres - eles são a própria base da sociedade tradicional. Os guerreiros estão acima deles, e os filósofos estão acima dos guerreiros. Mas, novamente, cada "acima" é sempre diferente. Como no corpo: acima do fígado, baço e estômago está o coração e os pulmões, e acima deles está a cabeça. Tal modelo somático de pessoa forma a base de uma sociedade sagrada trifuncional.
Eu simplesmente abomino a filosofia analítica e positivismo racional, além de considerar o materialismo, individualismo e abordagem analítica da consciência como formas de doença mental.
Creio ser suficiente para compreender porque sou chamado por eles de “o mais perigoso filósofo do mundo”. E isso explica perfeitamente todos os cancelamentos, deplantações, demonizações, marginalização, caricaturas,
No coração da expansão da “nova Rússia de Putin” está a hipótese de que a Rússia é uma civilização distinta do Ocidente, uma idéia familiar aos que leram “Limonov”, a biografia de sucesso que o francês Emmanuel Carrère publicou em 2011 sobre o escritor e político russo Eduard Limonov (1943-2020). Foi junto com este personagem exótico que Aleksandr Dugin fundou, em 1992, o Partido Nacional Bolchevique, cuja dissolução conflituosa levaria o futuro conselheiro presidencial a criar o Movimento Eurasiático em 2001. Sob uma forma ou outra, a premissa do eurasianismo é a mesma: sobre os traços do fracasso da União Soviética e as idéias de filósofos como Martin Heidegger e Carl Schmitt, a Rússia deve aspirar a preservar, proteger e liderar, com uma perspectiva imperial, uma identidade comum entre a diversidade de países, grupos étnicos, comunidades, religiões e até mesmo Estados sob sua influência na Europa Oriental e Ásia. Em um mundo dividido em civilizações, portanto, a “civilização terrestre eurasiática” liderada pela Rússia seria a melhor opção para se defender contra o imperialismo da “civilização marítima atlântica”, liderada pelos Estados Unidos e seus aliados.
No platonismo, há um domínio absoluto da luz. Ela desce saindo da fonte, atinge o ponto mais baixo e mais escuro, o ponto mais distante, a terra, e depois retorna placidamente e feliz à sua origem. Não há nada que possa se opôr à luz. Em outras palavras, nada pode se envolver seriamente na batalha contra o céu, contra Deus, contra o Sol. Existem algumas forças de baixo, da terra, que tentam nos manter aqui, impedindo nossa morte, impedindo o “retorno”, mas na concepção platônica elas adquirem uma importância secundária e podem ser facilmente conquistadas recorrendo à tradição ascética, seguindo a disciplina, as ordens, integrando-se na sociedade heroica, abraçando a παιδεία (paidéia), o caminho educacional da Grécia antiga que nos ensina como “retornar”. O sistema educacional na sociedade platônica não consiste apenas na obediência formal, mas na aceitação interna da ordem e no seguimento da tradição, tornar-se homens e mulheres indo-europeus em todos os aspectos, para poder percorrer o caminho vertical do “retorno”. Nesta concepção, não há lugar para o conceito de mal. Como afirmam os platonistas, o mal corresponde a uma condição de diminuição do bem; não existe mal em si mesmo. Se o bem é a origem, o sol, o céu, Deus, o mal é a distância em relação ao bem e corresponde a uma espécie de teste para a alma, uma experiência que tenta colocar obstáculos em nosso caminho para o “retorno” a nós mesmos.
O que estamos discutindo agora não é algo abstrato. Por exemplo, ao escrever e publicar o volume da Noomaquia dedicado ao Logos norte-americano, segui precisamente o caminho do etnocentrismo comedido. Você pode imaginar qual é o meu relacionamento com a cultura norte-americana: eu simplesmente a odeio. Lidar com isso foi um verdadeiro desafio para mim. Se eu tivesse escrito uma crítica ao imperialismo americano do ponto de vista russo, o resultado teria sido caricatural, teria escapado da esfera da Noomaquia e não teria alcançado uma descrição do Logos norte-americano. Em vez disso, cavando nas profundezas do Logos norte-americano, descobri coisas completamente diferentes, totalmente estranhas para mim, e comecei a entender. Eu não o aprovo, mas agora eu entendo ele, e eu entendo de onde vem a mentalidade e o comportamento daquele povo: em seu titanismo, em sua criação de uma civilização artificial pós-tradicional, na sua tentativa de construir uma espécie de sociedade americana em escala global, essas são consequências do seu Logos, que se baseia no universalismo desde o início. Repito, não aprovo tudo isso, mas isso é perfeitamente lógico. Existe um mundo americano, e há um Logos do mundo americano que identifiquei na filosofia pragmática – uma filosofia muito particular, muito diferente da filosofia européia, baseada na inexistência do objeto e do sujeito, uma filosofia muito interessante – a partir do qual logicamente tudo se segue.
O Estado-nação moderno é um deus político de acordo com Hobbes e dentro da estrutura da ciência política clássica.
Há também deuses globalistas com o rosto de bruxa de Hillary Clinton, ou que participam de desfiles de orgulho gay e eventos feministas, ou Soros. Eles são os verdadeiros deuses da globalização: eles dizem o que é politicamente correto e o que não é, eles tomam suas próprias decisões sobre o que é aceitável e o que não é. Os deuses do liberalismo vivem em uma religião liberal. E este culto tem um grande rebanho, desde um programador até o chefe do Sberbank. O usuário médio também está sob sua hipnose.
Os deuses podem ser diferentes e, de fato, existe um "deus do computador": este é o próximo nível. Um deus com a cara de Zuckerberg ou Macron. Quando olho para Macron, ele me lembra de um cortador de grama de última geração, ele é feito de elétrons, as lâmpadas acendem e apagam. Mesmo se você olhar para seus olhos, parece que na íris você pode ver faíscas que piscam microscopicamente de vez em quando. Portanto, se Macron não é o deus da inteligência artificial, ele poderia ser o profeta de um deus eletrônico: ele ama tanto o futuro, iluminando com sua presença sem sentido um grande número de migrantes que mal entendem a gramática francesa. Curiosamente, na véspera das eleições na França, o jornal "Liberation" saiu com uma grande manchete: "Faites tous ce que vous voulez, votez Macron! Esta é a lei principal da seita "Thelema" de Aleister Crowley: "Faz o que queres, esta é a lei!" Aí está o Macron!
Buscas assentadas neste desvio estão fadadas ao fracasso, pois tudo aquilo que não aponta altivamente para o Eterno, para o Bem e para o Belo, isto é, para a transcendência que nunca deixa de ser equilíbrio perfeito – e incessante busca pelo refinamento deste – culmina em antropofagia metafísica, refletindo na afirmação por meio de uma negação cartesiana radical, findando no niilismo.
O Logos de Cibele é a idéia de que a Grande Mãe cria e mata tudo. Não é a eternidade (Apolo) ou o ciclo (Dioniso), mas algo que age à sua maneira, com poder cego e absoluto. Uma forma de progresso: crescimento de baixo para cima. Na ótica apolínea, Cibele lidera a batalha titânica das forças ctônicas contra o céu e o reino do Logos masculino de Apolo. O Logos cibelino é a criação de um novo mundo que é titânico, ctônico e, em certo sentido, feminista, não porque haja igualdade entre homem e mulher – uma idéia muito mais dionisíaca – mas porque existe o domínio absoluto da Mãe sobre todo o resto.
O que é IA? Esta é a humanidade sem Dasein. Mas o Dasein, muitos dirão, é uma pequena perda. Não está claro o que é, está em alemão, é vago e difícil, é o que horroriza em seu próprio fim. Bem, você não ficará horrorizado, porque o seu não terá fim, e daí? Segundo Heidegger, a essência do homem está em sua limitação, em sua finitude. Bem, não haverá extremos, o bom, o bem. Não haverá Dasein, e ao diabo com ele. Não haverá existência, e bem...
De muitos lados, começam a circular rumores de que é necessário reconsiderar a democracia liberal, que agora é incapaz de confrontar os grandes desafios que incumbem no novo milênio. Um dos volumes mais críticos em relação a esse sistema é A quarta teoria política, ensaio recentemente reimpresso (Aspis Edizioni, 2019, 464 páginas, 28 euros) em que Aleksandr Dugin estabelece as bases para um novo paradigma, capaz para enfrentar a pós-modernidade com firmeza.
Durante seu exame, o filósofo russo distingue três macro-teorias políticas diferentes – liberalismo, comunismo e fascismo – que lutaram entre si no século XX, decretando a vitória do primeiro modelo sobre os outros dois. Segundo Dugin, após o colapso da União Soviética e a extensão do império talassocrático americano a todo o mundo, se chegou à globalização e à imposição do pensamento único através do tribunal inquisitorial do politicamente correto, que processa de maneira sumária qualquer um que não cumpra os ditames impostos pelas elites no poder.
A Quarta Teoria Política é, também, necessariamente uma práxis, do contrário seria uma fórmula vazia, abstrata. Falar em uma Quarta Teoria Política é, de imediato, falar em uma Quarta Práxis Política. Vimos, por exemplo, alguns apontamentos sobre a Quarta Práxis Política em um capítulo e em um dos apêndices do livro “A Quarta Teoria Política” do professor Aleksandr Dugin, que nos davam indicações sobre uma relação diferenciada entre “teoria” e “práxis” na Quarta Teoria Política em relação a outras dualidades do mesmo tipo. Essa relação diferenciada implicaria a presença permanente de um caráter “prático” na “teoria” da Quarta Teoria Política e de um aspecto “teórico” na “práxis” da Quarta Teoria Política.
Uma invocação explícita do Dasein para um projeto que se afasta da leitura de Heidegger é a de Jean-Luc Nancy (2008) "O ser-com do ser-aí". Nancy se concentra no existencial do ser-com. Heidegger foi criticado por forçar a categoria do ser-com, em bases fenomenologicamente injustificadas, para o campo semântico reacionário do "povo" (Volk) e da “comunidade" (Gemeinschaft) (por exemplo, Fritsche 1999)[13]. Nancy critica Heidegger por não seguir o reconhecimento da prioridade do ser-com às suas conclusões filosóficas completas, como Nancy as vê.
Para Nancy (2008), ser-com poderia ser um mero “ser-ao-lado”, um “compartilhamento de propriedades” ou uma estrutura compartilhada “comunitária ou coletiva”, com a primeira correlacionada com a democracia e a última com o totalitarismo. Ele deseja navegar entre os dois fatos de que Heidegger, por um lado, como acusam os críticos, “sempre foi um pensador comunitarista ou comunal no estilo hipernacional e hiper-heroico que Lacoue-Labarthe qualifica como ‘arqueofascismo’ e no qual o indivíduo não tem peso algum, exceto...na medida em que o indivíduo está à altura de um destino e uma civilização” e, por outro lado, que ele "penetrou no enigma do ser-com" mais profundamente do que qualquer outro pensador.
As hipóteses platônicas nos ajudam a entender o código da filosofia política contemporânea. Em última análise, todas as oito hipóteses podem ser consideradas modelos totalmente racionais do mundo e da sociedade e, se nos afastarmos das sugestões hipnóticas de progresso, poderemos fazer uma escolha consciente em favor de qualquer uma dessas hipóteses.
Isso significa que podemos selecionar a democracia e qualquer versão da democracia, assumindo a posição da segunda tese, ou podemos escolher a não-democracia, assumindo a posição da primeira tese e reconhecendo o Um. O interessante é que essa escolha pode ser feita não apenas hoje, pois ela também ficou diante do povo da Grécia Antiga, que escolheu entre Atlântida e Atenas (o diálogo platônico “Crítias”), Atenas e Esparta (a Guerra do Peloponeso, elogiada por Tucídides), e a filosofia dos monarquistas Platão e Aristóteles e dos liberais-atomistas Demócrito e Epicuro. Enquanto o homem permanecer homem, ele carrega em si mesmo, ainda que de forma vaga e distante, uma capacidade para a filosofia. Isso significa que ele carrega em si a liberdade de escolha. O homem pode escolher a democracia, e uma de suas formas, ou pode rejeitá-la.
A terra de origem dos sérvios, portanto, não corresponde aos Balcãs, mas está localizada mais ao norte. Ao mesmo tempo, surge a questão da pátria original, o Urheimat dos eslavos, geralmente aceito como localizado ao norte dos Cárpatos. Este último não constitui a terra direta de origem sérvia, mas a terra natal original habitada pelos protoeslavos, que viviam ao norte dos Cárpatos, no espaço da atual Ucrânia oriental. Após a expansão eslava, uma parte dos eslavos migrou para o norte, para o Báltico, e entre eles estavam os eslavos de Polabi, que após os séculos V e VI representavam a população dominante nas costas do Báltico. Supõe-se que os ancestrais dos sérvios devam ser atribuídos a uma dessas tribos polabe, especificamente entre os lótus, os bodrici e os lusacianos. Os ancestrais dos sérvios, portanto, viviam a oeste das outras tribos Polabe. A partir de então, eles migraram para os Balcãs orientais, e esse território foi reconhecido e garantido a eles pelo império bizantino, na intenção de defender as fronteiras do império contra os ávaros.
Uma primeira maneira de desconstruir a modernidade é fazê-lo do ponto de vista pós-modernista. A maioria dos pós-modernistas está insatisfeita com a modernidade porque, na opinião deles, não cumpriu completamente suas promessas iniciais de superar completamente a tradição, de modo que tentam desconstruir a modernidade com sua ética hiper-modernista, a fim de alcançar os objetivos estabelecidos pela modernidade, mas que, devido a seus limites internos, não atingiram. Podemos dizer que aos olhos dos pós-modernistas a modernidade é “tradicional demais” para superar completamente a tradição, como deveria ter sido e como a pós-modernidade se preparava para fazer. A desconstrução da modernidade operada pelos pós-modernistas visa, portanto, mostrar que ela não é “suficientemente moderna”, pois não atingiu o nível de modernização necessário aos olhos da ética pós-modernista. Mas é interessante como, ao fazer isso, nesse ato desconstrutivo, eles revelam a natureza artificial da Modernidade; de fato, você só pode desconstruir algo que foi construído anteriormente.
Podemos formular alguns princípios gerais sobre a doutrina cristã. Em primeiro lugar, do ponto de vista noológico e geosófico, o Logos cristão é evidentemente apolíneo. Os conceitos do Deus Pai Celestial, da Santíssima Trindade, da transcendência do Criador para a própria Criação, tudo isso gerou um Logos tipicamente apolíneo e patriarcal, com uma organização do espaço metafísica completamente vertical. Estamos lidando com o Pai Celestial transcendente, localizado no Paraíso, que cria o mundo. Esse ato de criação representa uma descida de cima para baixo, da eternidade para o tempo, do Paraíso à Terra, de Deus ao homem e a outras criaturas. O relacionamento entre o Criador e a Criação é, portanto, de um tipo hierárquico, com a Criação que deve ser submetida ao Criador. Essa verticalidade constitui a própria essência da tradição cristã. Nas raízes dos princípios dogmáticos fundadores, existe uma lógica puramente apolínica. Todas as três figuras da Santíssima Trindade também são masculinas, e isso é muito significativo do ponto de vista simbólico.